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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

COMPETITIVIDADE BRASILEIRA

Nesses dias das Olimpiadas de Londres, eu andei refletindo sobre a capacidade do povo brasileiro de competir. A impressão que eu tenho por vezes é que o brasileiro não nasceu para competir com ninguém ou que simplesmente não aprecia tanto a competição quanto os outros povos. Digo isso porque eu observei que tomando o desempenho dos atletas brasileiros desde a primeira Olimpiadas realizadas na Antuérpia em 1920 até os dias de hoje, pode-se traçar um paralelo entre o desempenho  olímpico e o desempenho do Brasil quanto ao seu progresso e desenvolvimento econômico, no qual é possível verificar um resultado analítico capaz de responder a razão pela qual o sucesso brasileiro de modo geral se traduz num compasso de dois passos para frente e um para trás.

Em 1920, o Brasil estreiou nas Olimpiadas de Antuérpia, com apenas 21 atletas e levou três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze, conquistando a 15ª posição entre os países competidores. O Brasil não fez feio e correspondeu a idéia que o mundo fazia dele de "uma Nação prometedora para o futuro". Parou alí. Nas quatro Olimpiadas seguintes o Brasil foi um total fiasco e só veio a ganhar uma medalha de novo, e de bronze, nas Olimpiadas de Londres em 1948 – apesar de contar com uma delegação de 70 atletas. Nova medalha de ouro só veio em 1952, nas Olimpiadas de Helsinque, e o feito se repetiu nas Olimpiadas de Melbourne em 1956, onde 25ª lugar foi novamente sustentado. Todavia, o desempenho brasileiro seria lamentável até as Olimpiadas de Moscou em 1980, quando para surpresa de todos o Brasil levou duas medalhas de ouro e duas de bronze e galgou para o 18º lugar. A partir de então o desempenho brasileiro ficou sustentado marcando passo, até que no ano 2000, nas Olimpiadas de Sydney foi um desastre! Apesar de seis medalhas de prata e seis de bronze com uma delegação de 205 atletas, o Brasil ficou classificado em 52º lugar e foi a vergonha nacional. Contudo, nas próximas Olimpiadas de Atenas de  2004, o Brasil mostrou a sua capacidade de recuperação e uma inusitada capacidade de competição. Assim, com uma delegação de 247 atletas, o Brasil conquistou cinco medalhas de ouro, 2 de prata e 3 de bronze, para orgulho nacional ficou 16º lugar. Tal desempenho estimulante não veio a se repetir nem nas Olimpiadas de Pequim em 2008 e muito menos nas Olimpiadas de Londres desse ano, onde o único feito foi sair do 23º para o 22º lugar, apesar que em ambas ocasiões os atletas dessas delegações – com 277 e 258 respectivamente –  tenham sido os que mais receberam patrocínio governamental e privado, contando com o melhor apoio técnico de toda história desportiva do Brasil. Resta então a pergunta, qual foi o ingrediente que faltou aos nossos atletas em Londres para que tivessem o desempenho que nós esperávamos deles?

Eu arrisco aventar que esteja relacionado com o momento político-econômico brasileiro, isso porque pode-se observar que os melhores desempenhos se deram em momentos que o Brasil estava cheio de esperança e confiança no futuro: em 1920 com a nascente República brasileira, em 1980 com o processo de abertura democrática e em 2004 com a vitória da chegada do Partido dos Trabalhadores à presidência da República. Por sua vez os desempenhos pífios se  deram justamente em momentos de crises políticas, como a ditadura Vargas (durante a II Guerra Mundial) e a ditadura militar (durante a Guerra Fria), ou de recuperação de crises econômicas mundiais como a de 1999 e a de 2008-2009.

Pode-se dizer assim que os atletas refletem em seu desempenho não só a confiança como também o comprometimento e o orgulho patriótico que possuem em relação aos seus países. Algo que os analistas brasileiros nunca consideraram, levando em conta apenas o aspecto técnico de preparo para o desempenho desportivo. Não obstante, os países que ocupam desde 1920 os primeiros lugares na classificação sabem muito bem disso. Hitler foi o primeiro a deixar claro isso, depois os EUA, Grã-Bretanha, URSS (antiga Russia), China, e as Alemanhas Ocidental e Oriental passaram a se degladiarem de tal maneira durante os Jogos Olimpicos que não davam chance para mais ninguém, a disputa ficava entre os EUA e seus aliados e a URSS com os seus. Era até um tédio assistir os Jogos Olímpicos durante o período da Guerra Fria (1945-1989). Só a partir dos anos de 1990 as Olimpiadas deixaram de refletir o poder político dos países – por conta do fim da Guerra Fria (1989) –, no entanto elas passaram a refletir o poder econômico e comercial dos países, tal como pode-se constatar no quadro de classificação dos países na recente Olímpiadas de Londres:  lugar – EUA com 46 medalhas de ouro;  lugar – China com 38 medalhas de ouro;  lugar – Reino Unido com 29 medalhas de ouro;  lugar – Russia com 24 medalhas de ouro;  lugar  – Coréia do Sul com 13 medalhas de ouro;  lugar – Alemanha com 11 medalhas de ouro;  lugar – França com 11 medalhas de ouro e depois  vem o resto dos 195 países participantes. Se houve alguma surpresa foi a do I –o atual inimigo número um das democracias ocidentais – , por ter pontuado com quatro medalhas de ouro e ocupado o 17º lugar, logo atrás de Cuba, mas de resto está tudo como sempre e foi só a motivação que mudou.

Nestes dias a mídia brasileira vira e mexe tem apreciado destacar o mal desempenho da econômia brasileira neste ano, como se o mundo todo não estivesse sofrendo os duros solavancos da custosa recuperação da econômia mundial consequente da crise econômica de 2008-2009. O problema ao meu ver está justamente na falta do exercício da atividade de competição da camada produtiva da econômia brasileira. Nossos empresários e industriais por vezes se comportam como a judoca Sarah Menezes – capaz de conquistar uma medalha de ouro no primeiro dia das Olimpiadas,  levando o otimismo brasileiro às alturas –, ou como o time de volei feminino, – que encheu de orgulho a todos –, e em outras vezes como a atleta nada afamada do pentatlo moderno Yane Marques – que classificada em 18º lugar nas Olimpiadas de Pequim, demonstrou uma capacidade única de superação, conquistando a medalha de bronze –, que uniu todos brasileiros num estado de admiração perplexa com a atleta anônima de quem a mídia pouco ou nada falara. Mas, grande parte das vezes nossos empresários e industriais se comportam como o time de futebol masculino – que tinha tudo para levar o ouro e errou horrívelmente na finalização –, ou como o time do volei masculino – que também estava com tudo para levar o ouro e foi surpreendido por um gigante russo poderoso, pois não tinha estratégia para enfrentar um elemento surpresa e não estudou bem o adversário. Quando não, o comportamento é o pior de todos e se assemelha ao da atleta de salto com vara Fabiana Murer – que desistiu da disputa por causa do vento e por achar perigoso saltar e se machucar.

Recentemente assistindo o seriado “Suits” da USA Network –  um dos raros que demonstra que existe vida inteligente na TV – , o advogado senior Harvey disse ao seu pupilo Michael Ross: “– Só existem dois tipos de pessoas: vencedores e perdedores. Os vencedores não arranjam desculpas quando o outro lado joga. Você precisa saber que tipo de pessoa você é. O bom advogado mantém o foco no caso, o ótimo no oponente.” É a pura verdade, a vida é competição e quem não se der conta disso esta fadado a ficar chorando miséria e colocando a culpa nos outros ou nas circunstâncias para justificar o seu fracasso, em vez de assumir que sua derrota é por pura falta de garra e de coragem para competir. Já vi e testemunhei muito disso. Houve o tempo em que o bode expiatório da incompetência brasileira para competir eram os EUA (1960), depois foi o Japão (1970), aí vieram os chamados “Tigres Asiáticos” (1980-90) e agora é a China, a inteira culpada pelo nosso pouco sucesso empreendedor, quando na verdade quem faz corpo mole é o empresariado brasileiro. Um empresariado que tenho que reconhecer que sofreu com as mazelas políticas do Estado brasileiro, nos anos JK (1956 – 1961) foram estimulados  a investir na construção de Brasília e no parque industrial brasileiro, vieram os militares em 1964 – colocados no poder pela elite do empresariado brasileiro –, tudo ia até que bem durante o chamado “milagre brasileiro” até que um espírito nacionalista tomou conta do governo militar e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – uma autarquia fundada em 1952 –, fosse transformado numa empresa pública estatal e em vez de cumprir sua função de financiar os empreendimentos dos empresários e industriais, virou um devorador de empresas e industrias privadas, nacionalizando grande parte do sistema produtivo brasileiro. Assim a notícia de que este ou aquele empresário ou industrial tinha recorrido ao BNDES era o mesmo que dizer que ele tinha assinado a sentença de morte de seu negócio, ao comprometer-se com a dívida de um empréstimo junto ao BNDES que jamais conseguiria pagar do próprio bolso e também sem a possibilidade de recorrer a empréstimos externos ou a aceitar qualquer proposta estrangeira de fusão. Foi o período da estatização do Brasil, o qual veio a terminar a partir de 1990, com o governo de Fernando Collor de Mello, que deu início ao processo de desestatização, mas que em verdade veio a ocorrer de maneira intensa e temerária durante o governo de Fernando Henrique Cardosos, quando foi colocada uma placa de “VENDE-SE” no Brasil, e os estrangeiros compraram as empresas brasileiras a preço de banana. Apenas recentemente o BNDES tem tentado mudar a sua má fama e muito tem-se investido para que ele venha cumprir o propósito para o qual foi criado no passado. Por essa e por outras tantas confusões econômicas governamentais, o empresariado brasileiro adotou uma postura cautelosa e nada arrojada, porquanto como bem se diz popularmente “gato escaldado tem medo até de água fria”.

O mote que vem sendo usado de que “o brasileiro não desiste nunca”, pode ser até uma idéia que reflita o progresso em passo de tartaruga do Brasil – pois sem dúvida o brasileiro teve que ter muita paciência e perseverança para chegar ao sucesso conquistado dos dias atuais de uma estabilidade econômica e finanaceira, que jamais teve antes –, pois a experiência das turbulências do passado ensinaram que "desistir" não é  a solução de nada e por isso o Brasil agora exercite ainda mais sua perseverança num desenvolvimento gradual e sustentado. O empresariado tal como os atletas brasileiros sofrem com a ansiedade do desempenho, da mesma maneira eles temem o colapso de suas atividades apesar de terem o preparo adequado para enfrentarem o desafio. Como os nossos atletas também eles precisam relaxar, pois concentração demais como dizem os psicólogos pode fazer mais mal do que bem. Eles precisam igualmente aprender a tapear o próprio cérebro, que insiste em dar maior atenção às possibilidades de fracasso do que as chances de vitória, além disso eles devem aprender também a ligar o cérebro no “automático” e deixar ele fazer o que foi treinado para fazer. No caso da competição econômica, as experiências do passado para superar a adversidade criaram novas ferramentas para o desempenho empresarial tal como o uso de informações para análises e previsões, planejamento e estratégia e muitas outras. Certo é que após passar por tantas situações parecidas, essas acabam por parecer menos assustadoras e aprende-se a lidar  melhor com elas, com mais habilidade e capacidade de superação de circunstâncias adversas capazes de imobilizar o exercício competitivo. Portanto, o problema do empresariado brasileiro é mais de um necessário treino psicológico que o faça mais competitivo do que uma questão de circunstâncias econômicas tais como os juros ( que não são mais altos), os impostos (que estão sendo reduzidos), a flutuação do dólar, o sobe e desce da bolsa de valores, aumento ou diminuição de investimento externos, empréstimos (que hoje existe em abundância, até demasiada) e etc. e tal.

O brasileiro precisa entender uma coisa de maneira defenitiva,  o espírito de competição faz parte da natureza humana, não há nenhum pecado ou mal nele, se não fosse a competição o ser humano não teria progredido e até hoje estaria fadado a viver nas cavernas. Saber competir e vencer  com o uso da inteligência é que são elas. Pois, vencer uma competição roubando, fraudando, passando a perna, enganando, fazendo uso de todo tipo de desonestidade é fácil, qualquer idiota o faz, mas o resultado é este que nós estamos testemunhando em consequência da crise econômica de 2008 – 2009; os países antes cheios de arrogância com o Brasil estão por aqui, humildes passando o chapéu – aqueles mesmos que humilharam os imigrantes brasileiros os fazendo passar vergonha em seus países –, eles querem agora que o Brasil suavize seus compromissos financeiros ou até que empreste dinheiro para tirá-los do poço em que se enfiaram. Agora, são estes países que estão a beira do precipício e não o Brasil, por isso mesmo não podemos adotar o mal exemplo que eles nos deram no passado com sua concorrência desleal. O Brasil pode e deve concorrer, mostrando que é possível competir sem burlar as regras e as leis, para tanto o Brasil tem que adotar regras duras para coibir as práticas do lobby corruptivo e de concorrência desleal industrial, empresarial e comercial, como vem sendo praticado cotidianamente por algumas empresas estrangeiras e por aquelas brasileiras de capital estrangeiro, que consideram em sua presunção que o Brasil é uma terra de ninguém e que podem fazer aqui o que não poderiam fazer em seus países de origem. Do mesmo modo que o governo tem investido em nossos atletas também tem que investir em nossos empresários e industriais, principalmente dando-lhes não só meios financeiros e estabilidade econômica, mas como também suporte legal adequado para que possam competir com regras claras e não na base de privilégios governamentais em mudanças de regras e leis  convenientes mais ao capital estrangeiro do que ao capital brasileiro. Privilégios esses distribuidos a países que estejam a oferecer promessas de compensações momentâneas nas transações internacionais ou qualquer outro tipo de negócio duvidoso. Pois, pode-se afirmar com certeza, que a partir do instante em que o Brasil tiver consciência de seu potencial competitivo e aprender a usá-lo devidamente, vai parar com esse comportamento tolo de ser “amiguinho” de adversário, passará a ter  mais foco no seu oponente do que no caso das “maravilhas” do “grande” negócio ao melhor estilo do "ouro de tolo" que seu concorrente está a oferecer e aprenderá a defender primeiro o próprio interesse e imporá as suas próprias regras no jogo e não estará sujeito mais às regras que não são de sua conveniência.

Não basta o “gigante” ter despertado de seu sono e agora estar andando. O Brasil precisa precisa saber para onde vai e o que quer para seu futuro; se quer continuar sendo manipulado pelos interesses internacionais vampirescos ou se vai trilhar seu próprio caminho, tendo a coragem para entrar na arena mundial para competir para vencer . O Brasil precisa decidir que  tipo de país quer ser: se vencedor ou  se  perdedor.

Brasil entra em ranking de competitividade

Diário do Grande ABC - ‎há 18 minutos‎
Pela primeira vez, o Brasil entrou para o ranking dos 50 países mais competitivos no Relatório Global de Competitividade, divulgado nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial. Para chegar à 48ª posição desta edição do ranking, o País subiu cinco ...


Ranking da competitividade 2012-2013
1. Suíça (1º no ranking anterior)
2. Cingapura (2)
3. Finlândia (4)
4. Suécia (3)
5. Holanda (7)
6. Alemanha (6)
7. EUA (5)
8. Grã-Bretanha (10)
9. Hong Kong (11)
10. Japão (9)
29. China (26)
48. Brasil (53)
52. África do Sul (50)
59. Índia (56)
67. Rússia (66)