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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 13. O MISTÉRIO DO JEJUM DE JESUS NO DESERTO

JESUS, AMOR & FÉ *


13. O MISTÉRIO DO JEJUM DE JESUS NO DESERTO

Alguém poderá me recordar que Jesus foi batizado primeiro e depois foi para o deserto ser tentado por Satanás. Convenha-se que isso não faria o menor sentido nem em termos da tradição religiosa judáica, menos ainda considerando que Jesus era o “avatar” do próprio Deus desde a sua gestação e nascimento. Novamente temos que recordar as limitações dos nossos irmãos do passado, apesar de alguns terem dado seu testemunho tendo a graça de acompanhar os eventos da manifestação da passagem de Jesus pela Terra Santa, paradoxalmente, nós apesar de não termos sido testemunhas ocular viemos a crer e, mais do que isso, nós fomos agraciados com novos conhecimentos que nos permitem até dizer que que podemos conhecer melhor Jesus hoje do que os contemporâneos do seu tempo. 
Outro ponto é que os romanos por ocasião da formação da religião romana cristã não possuíam um perfeito conhecimento da religiosidade dos judeus, além do que a barreira linguística contribuía para guardar os conhecimentos do Deus dos judeus, sobre o qual  os judeus tinham um sentimento de “propriedade”, porquanto segundo a tradição mosáica os judeus é que formavam o “o povo escolhido” de Deus. O conceito de um Deus “universal” não era bem aceita entre os judeus, que exerciam a descriminação como parte cotidiana de sua cultura. Apesar de um de seus principais profetas, Isaías, o qual nascera no ano de 760 a.C., de uma família nobre do reino de Judá, e sendo chamado por Deus no ano de 740 a.C. ao ministério profético - que exerceu por cerca de 50 anos-, ter se consagrando pelo acerto de suas profecias e mais do que isso pode-se dizer que Isaías não só foi o profeta do Messias, mas, também foi o profeta que revelou uma face misericordiosa e universalista do Deus dos judeus. Por esses motivos o livro profético de Isaías é uma leitura obrigatória para todo aquele que almeja ir ao encontro de Jesus e seguir seus ensinamentos.
Ora, Jesus aos 20 anos, como todo bom judeu, fez o seu recenseamento pagando o imposto devido ao Templo de Jerusalém, como contribuição devida ao Senhor em resgate de sua vida, tal como foi estabelecido na Lei (Êxodo 30:11-16) passando assim a integrar oficialmente o “povo de Deus”. Também, como bom filho não desamparou a sua mãe e dela cuidou até que o tempo de sua manifestação pública, a sustentando com o suor de seu trabalho de marceneiro, ofício que aprendera com seu pai terreno José. Muito se especula erroneamente o que Jesus teria feito nesse tempo que é um hiato na sua história terrena. Imagina-se muitas coisas, muitas aventuras, como se o próprio Deus precisasse disso! Mas, ninguém pensa no óbvio - no mais simples, talvez porque o óbvio é a verdade que não se quer ver-, que aquilo que Deus queria conhecer estava justo na simplicidade da vida humana e não na sua pompa e circunstância. É no seio da vida familiar e na convivência comunitária que Jesus poderia compreender a profundidade da natureza humana. Jesus, Deus em seu avatar terreno,  teve a oportunidade de vivenciar os anseios e as inquietações de um jovem adolescente e depois a complexidade da vida adulta e suas exigências, inclusive, tendo a oportunidade de se apaixonar, de amar e dar vazão as suas necessidades hormonais, da mesma forma que estava sujeitos às funções orgânicas do seu corpo físico (isso mesmo, Jesus também urinava e evacuava do mesmo modo que comia e bebia!!!). Portanto, não tenhamos a tola ingenuidade que Deus sendo o criador do “sexo” não o fosse experimentar na condição humana, do mesmo modo que experimentou comer, beber, rir, chorar, dançar, brincar e tudo o mais que faz parte da vida humana. Eu acho uma graça imensa quem prega uma vida de Jesus sem “necessidades” físicas, se assim o fosse, não haveria pois também a necessidade de morrer. Destarte, que o primeiro passo para compreender o Jesus divino é compreender o HOMEM JESUS!!!
A pratica de qualquer forma de “jejum” visa promover uma mudança de estado da consciência, de um estado materialista para um espiritualizado. Essa é uma prática comum desde que o mundo é mundo entre os que buscam elevar-se, e como diria Buda, de quem busca a “iluminação”. Sem dúvida segundo o costume religioso dos  judeus os homens com vocação para servir o Senhor (Yavéh, Javé, ou Jeová), fossem eles profetas, rabis ou mestres teriam que passar por um ritual de consagração para se tornarem “santos" para Deus.  Está escrito no livro sagrado do Levítico: 21;8 “Terás, pois, o sacerdote por santo, porque ele oferece o pão (pão ázimo, maná) de teu Deus: ele será santo para ti, porque eu, o Senhor que vos santifico sou santo”.  Mais adiante se lê no livro sagrado dos Números 6;2-4: “Quando um homem ou uma mulher fizer o voto de nazireu * (em hebráico ‘nazar’, que significa separar, consagrar) separando-se para se consagrar ao Senhor abster-se-á de vinho e de bebida inebriante; não beberá vinagre  de vinho, nem vinagre de outra bebida inebriante; não beberá suco de uva, não comerá nem uvas frescas, nem uvas secas. Durante todo o tempo de seu nazireato não comerá nenhum produto da vinha , desde as sementes até as cascas de uva".  
Os jejuns mais famosos na tradição judaica são os jejuns de quarenta dias de Moisés e de Elias. Daniel, o profeta, jejuou na preparação para receber as suas revelações. Segundo a tradição o grande profeta Elias teria fundado a comunidade dos essênios, no monte Carmelo. A palavra essênio significa curador ou terapeuta, e seus membros chegavam a viver 120 anos e tinham por costume jejuar por 40 dias uma vez por ano, pois usavam o jejum como uma forma de purificação de seus corpos  e aumentar a sua comunhão com Deus. 
Nós poderemos assim depreender que Jesus faz seu primeiro jejum conforme o costume essênio de forma a vir estabelecer uma total comunhão entre o seu corpo físico, o avatar de Jesus com o seu ser divino de Deus. Esse será o jejum de 40 dias no deserto. O segundo jejum se dará ao modo nazireu quando Jesus se separar do mundo para consagração total a Deus, na véspera de sua paixão, tal como se pode ler em Mateus 26;29 : “Digo-vos: Doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no reino do meu Pai.” Passagem esta constante também dos evangelhos de Marcos 14;25 e Lucas 22;18.
Quando João Batista iniciou o seu ministério para “endireitar as veredas para a vinda do Senhor”, por volta de 27 d.C. ou 29 d.C., Jesus deixou sua mãe amada em boas mãos e dirigiu-se ao deserto da Judéia, entre Jerusalém e o mar Morto, a fim de se preparar para a sua altíssima missão de ser o "Servo de Deus", tal como descrito pelo profeta Isaías. 
Na narrativa dos Evangelhos, Jesus faz a sua “expiação” quanto às tentações a que estaria sujeito na condição humana, e nesse “dialogo consigo mesmo” teve também como interlocutor o seu anjo caído, Satanás. O outrora Arcanjo da Luz e da Sabedoria, Lúcifer, que fez oposição à Deus por causa da criação do homem, rebelando-se contra o próprio Deus ele foi expulso dos céus por seu irmão o Anjo da Face do Senhor, o arcanjo Miguel.  Condenado a viver na Terra e entre os homens, Lúcifer passou a se chamar Satanás, que quer dizer o “adversário”. 
Sim, Satanás estava a espreita dessa hora de poder confrontar o próprio Deus em seu avatar de Jesus, que não era outro senão o arcanjo Miguel, a Face de Deus, dando à Deus sua experiência na condição humana. Eis porque essa passagem é importante e só poderia acontecer “antes” do batismo, quando Jesus ainda estava tomando sua decisão de seguir em frente com o seu “sacrifício expiatória para o bem da humanidade”. Pois, não haveria maior tentação para Jesus que essa: a de continuar sendo apenas humano e não manifestar a sua divindade. Porquanto, estando encarnado, mesmo sendo o próprio Deus, apesar de sua condição divina estava sujeito também ao uso do "livre arbítrio" tal como todo ser humano. E será nessa ferida aberta da tentação do coração de Jesus que Satanás vai colocar seu dedo malévolo (Mt. 4). 
Por isso que Satanás inicia seu ataque dizendo: “Se és Filho de Deus *(arcanjo Miguel), ordena que estas pedras se tornem pães.” Pois a “fome” é um sofrimento doloroso humano, e Jesus sentia fome em seu jejum. A isso Jesus respondeu: “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. (Deut. 8:3) Porquanto, nós sabemos que a palavra de Deus alimenta alma e a salva. 
Satanás, então, foi mais fundo e transportou Jesus ao pináculo mais alto do templo na cidade santa e disse-lhe:”Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos com cuidado para não machucares a teu pé nenhuma pedra (Salmo 90, 11s).” Respondeu Jesus: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Deut. 6:16)”. Se a subsistência é o primeiro drama humano, fonte de sofrimento, o segundo é sem duvida a mortalidade a que está condenado, mas a resposta de Jesus é certeira pois Deus não deve ser desafiado a provar a sua própria existência, essa seria a causa principal de sua crucificação , quando ouviria de seus perseguidores a zombaria; “Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!” (Mt. 27: 42-43). 
Então, Satanás o transportou para o pico mais alto das montanhas e lhe mostrou a glória de todos os reinos do mundo e disse a Jesus: “Dar-te-ei tudo isto, se prostrando-te diante de mim, me adorares.” Respondeu-lhe Jesus: “Para trás Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás.” (Deut. 6:13) Eis a última tentação de Jesus, a mais humana de todas, que é o desejo humano de igualar-se em seu poder a Deus, desejo esse que foi imbuído em Adão pelo próprio Satanás e que levou Adão ao pecado primordial que o fez perder a sua condição de perfeição que lhe foi dada por Deus, o que condenou a si e a toda a criação dependente da necessidade física e condenada a mortalidade. Jesus em sua condição humana deu a resposta que Adão deveria ter dado a Satanás, mas não deu, e por sua deslealdade foi castigado por Deus. E assim, Jesus derrotou brilhantemente Satanás, não como Filho de Deus, mas como o HOMEM JESUS!!!
Eis que assim surgiu o Servo, a luz das nações tal como descreveu Isaías:
“Ilhas, ouví-me, povos de longe, prestai atenção!!! O Senhor chamou-me desde o meu nascimento, ainda no seio da minha mãe, ele pronunciou o meu nome. Tornou a minha boca semelhante a uma espada afiada , cobriu-me com a sombra de sua mão… Disse-me: Tu és meu servo em quem eu me rejubilarei”… E agora o Senhor fala, ele que me formou desde o meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, porque o Senhor me fez essa honra e meu Deus tornou-se minha força. Disse-me: ‘Não basta que seja meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; VOU FAZER DE TI A LUZ DAS NAÇÕES PARA PROPAGAR A MINHA SALVAÇÃO ATÉ OS CONFINS DO MUNDO.” (Is. 49: 1-6)
Após seu jejum perfeito aos olhos do Pai, Jesus rompeu as cadeias injustas, desatou as cordas do jugo, mandou embora as opressões e libertou seu corpo de qualquer apego à matéria e fortaleceu o seu Espírito. Então, Jesus alcançou a sua mais perfeita condição humana como só um homem antes dele um dia o foi semelhante,  a sua criatura Adão. E nessa condição de homem perfeito a sua luz surgiu na aurora, e suas feridas não tardaram a cicatrizar-se, pois a sua justiça caminhava diante dele e a glória do Senhor seguia à sua retaguarda. E a luz dele levantou-se na escuridão e a noite resplandeceu como dia pleno, e o Senhor passou a guiar seus passos constantemente e o alimentou no árido deserto, renovando o seu vigor. (Is. 58)
* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

domingo, 25 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 12. DA PRIMAVERA DA ALMA

JESUS, AMOR & FÉ *


12. DA PRIMAVERA DA ALMA 


No último mês do ano romano FEBRUARIUS, se dava o grande “sacrifício de expiação” chamado “februaria”, assinalando o final do ano. Essa celebração era uma homenagem à divindade itálica chamada “Februs” identificada com “Dis Pater” (que significa Deus Pai em latim), também conhecido como Plutão (ou deus Hades para os gregos), que era o deus das riquezas porque dominava as profundezas da terra, de onde mandava prosperidade e fertilidade, ele era também o juiz das almas dos mortos, o único que tinha poder de restituir a vida a um ser vivo, também poderia destiná-la à bem-aventurança dos Campos Elísios ou condená-la ao sofrimento dos Infernos. 

Nunca foi erguido um templo para Plutão em Roma, pois considerava-se o deus o Senhor de todas as coisas, muito temido por deter o poder de vida e morte. Na celebração expiatória costumava-se fazer oferendas que eram queimadas até tornarem-se cinzas, as quais eram jogadas depois sobre os arrependidos.

Essa era uma tradição vigente ao tempo de Jesus e sendo a região  que viviam os judeus vassala ao Império Romano, estava sujeita ao calendário romanos a despeito do calendário judáico, nada muito diferente do que ocorre nos dias de hoje quanto a relação do calendário gregoriano com os outros calendários judáico, chinês,  árabe e outros. Porém, o que todos calendários trazem em comum são os equinócios e solstícios solares, que marcam as mudanças das quatro estações do ano. Assim, no tempo de Jesus o final do ano na tradição greco-romana o ano findava no inverno e iniciava com a primavera. E essa passagem do inverno para a primavera era um momento especialmente considerado em todas religiões, cujos rituais buscavam explicar o mistério da vida e da morte.

Até os dias de hoje essa relação entre as estações do ano e os rituais religiosos está presente, é em razão disso que se celebra o período da Quaresma no costume cristão. É importante ter em mente que quando os rituais sagrados cristãos foram instituídos pelos romanos a partir do imperador Constantino, (século IV d.C), os romanos pouco ou nada sabiam das tradições religiosas dos judeus, a própria Igreja cristã se sustentava sobre uma miscelânea de informações e com tradições confusas que misturavam a tradição judáica com a tradição da Igreja cristã grega assomada com outras tantas oriundas da cultura romana misturadas ainda com a cultura germânica e também bárbara. Na prática aqueles que eram seguidores de Jesus, eram considerados como judeus, pois o incipiente cristianismo não passava de uma dissidência do judaísmo, uma mera seita, um braço da religião judaica. 

Em termos históricos, após a transcendência de Jesus (29 d.C data provável da crucificação), a primeira Igreja cristã foi erguida em Corinto ao Norte da África em 40 d.C e, em 45 d.C, por  Saulo de Tarso,   judeu farieseu nascido em Tarso vilarejo da Antioquia (atual Turquia) , que viveu em Roma com sua família, e que durante uma viagem a Damasco se converteu ao cristianismo e começou a sua pregação adotando o nome de Paulo, e em 50 d.C. começou a escrever os primeiros textos do Novo Testamento, vindo a falecer em 67 d. C. , após o início da perseguição aos cristãos e judeus pelo imperador Nero em 64 d.C. 

Em 70 d.C o general romano Tito, filho primogênito do Imperador Romano Vespasiano, entrou com suas legiões em Jerusalém e derrubou o Templo reconstruído por Herodes, não deixando pedra sobre pedra tal como a profecia feita por Jesus ("Vêdes todos esses edifícios? Em verdade vos declaro: Não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído" Mt. 24:2).

Essa foi a primeira Diáspora judáica, a segunda viria em 135 d.C. quando o imperador Adriano decretou a expulsão dos judeus da Terra Santa, da região da Palestina. Desenraizados e sem pátria os judeus espalharam-se pela Europa e costa mediterrânea. 

Portanto, em seus primórdios o cristianismo era uma divisão do judaísmo, era difícil a um leigo distinguir entre os dois ramos religiosos judaicos. Portanto até o imperador Constantino em 313 d. c. promulgar o Édito de Milão, que garantiu a liberdade de culto aos cristãos, a divisão entre judeus e cristãos simplesmente não existia. Será tão somente a partir do Primeiro Concílio de Nicéia, convocado por Constantino em 325 d. C. que essa distinção de credos passará a se configurar, estabelecendo questões de heresias. E novamente as palavras proféticas de Jesus se cumprem ("Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim ele cortará..." Evangelho de João Capítulo 15). Será em 380 d.C. que o imperador Teodósio I fez do cristianismo a religião oficial do Estado romano. Assim foi no Concílio de Constantinopla que foi reafirmado o Credo de Nicéia e estabeleceu o Espírito Santo em pé de igualdade com o Pai e o Filho, formando assim a Santíssima Trindade, de modo que a idéia da Santíssima Trindade se tornou a pedra fundamental sobre a qual se ergueria a poderosa Igreja Cristã da Antiguidade, que subjugaria todos os povos da Europa até o século XVI. 

Contudo, o projeto político-religioso de uma teocracia imperial não sustentou  a unidade do império romano, que se partiu ao meio em 395, com a morte do imperador Teodósio. As invasões comandadas por Átila, chamado de “O Flagelo de Deus”, líder dos hunos, povo oriundo das estepes asiáticas estabelecido na Hungria, colocou fim domínio de Roma em meio a grande destruição, em 476 foi deposto o último imperador romano Rômulo Augustulo, e para sobreviver a Igreja de Roma estabeleceu alianças monárquicas com os novos reinos bárbaros que surgiram na Europa. 

Neste tempo a distinção entre judeus e não-judeus insipiente na prática, pois o exercício discriminatório se dava mais entre romanos e bárbaros. A fraqueza da nova política teocrática imperial romana logo se manifestou na incapacidade de manter a unidade entre os “bispados" das cidades do território do império no Oriente Médio, dando oportunidade para o surgimento de uma nova teocracia baseada em costumes regionais, que aproveitando-se da fraqueza da decadência romana empreendeu sucessivas campanhas militares conquistando os territórios enfraquecidos do Oriente Médio, tal como a região da Palestina por exemplo. Essa região que já tinha sido expurgada dos judeus no século II, por volta do século VII, quinhentos anos depois portanto, constituía-se de um cadinho de culturas, inclusive judáica, porquanto os judeus voltaram a se estabelecer em seus antigos territórios sob a êgide de “cristãos romanos”, e viriam a ser conquistados pelos árabes islâmicos, muitos deles adotando a a profecia de fé divulgada pelo profeta Maomé. 

Destarte, que com isso cumpriu-se mais uma vez as palavras proféticas de Jesus que disse sobre certos judeus que prefeririam as glórias humanas às glórias de Deus: “Não espero a minha glória dos homens, mas sei que não tendes em vós o amor de Deus. Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo.” (Jo 5: 41-43) 

De modo que a distinção entre cristãos e judeus, só passou a se dar quando os judeus se uniram aos novos dominadores teocráticos árabes islâmicos e ocuparam a região da Península Ibérica na Europa, a partir de 711, formando o califado de Córdoba, e ocupando as Ilhas Baleares, a Sicília, a Córsega e a Sardenha, realizando devastadoras pilhagens e aprisionando os cristãos que eram vendidos como escravos. A pirataria islâmica constituiu-se uma ameaça permanente aos povos cristãos europeus até o século XI, quando teve início severas campanhas militares para a expulsão dos islâmicos do continente europeu, a partir desse momento é que verdadeiramente a distinção entre islâmicos e judeus e entre judeus e cristãos se tornou clara, pois muitos judeus que tinham convivido com os islâmicos desejosos de ficarem na Europa se auto-declararam “judeus" para serem assim recebidos pelos reinos europeus cristãos, e puderam migrar da Península Ibérica para a Inglaterra, França e Alemanha, enquanto os árabes islâmicos foram expulsos. Essa questão explica muitas circunstâncias históricas do cristianismo e permite que compreendamos melhor as graves divergências religiosas que surgirão entre os cristãos, divergências estas devidamente semeadas para solapar a unidade da teocracia cristã européia implantada pelo antigo império romano.

Portanto tenhamos bem em nossa consciência antes de julgar levianamente, que essa Igreja que se ergueu em nome de Jesus, é uma instituição humana sujeita a erros e acertos da condição humana, seu conhecimento religioso bebe na tradição judaica e amalgama-se com várias tradições religiosas pagãs para poder tornar-se um fé inclusiva e agregadora dos mais variados povos que constituem a humanidade, dando-lhe  o caráter de uma fé universal, tal como era desejo de Jesus. Assim como foi profetizado nas Sagradas Escrituras pelos profetas como Isaías e Ezequiel, os judeus, apesar de serem o povo escolhido de Deus, também  seriam espalhados por toda terra devido a dureza de seus corações e subsistiriam e seriam como o sal da terra, misturando-se a ela, a ponto que hoje ninguém possa dizer que não tenha sangue judeu correndo em suas veias. Subsiste atravessando milênios, superando todas as desgraças do passado e do presente a fé no Deus do patriarca Abraão, até que, possivelmente, por obra da misericórdia de Deus, um novo coração seja dado ao ser humano no futuro e cumpra-se a profecia de Jesus sobre a conversão universal: "Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta. Porque eu vos digo: Já não me vereis, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor." (Mt. 23:39)

Nas disposições litúrgicas da nova Igreja Romana Cristã, estabeleceu-se o período da passagem de Jesus na Terra, de seu nascimento até a sua morte e ressurreição na época do inverno no hemisfério norte, pois naquele tempo nem se cogitava na existência de outras terras sujeitas a outros regimes climáticos. O inverno na tradição romana representava segundo a sua religião politeísta a morte e o renascimento da vida, de forma que o período que antecederia o renascimento da vida já era dedicado a um exame de consciência por então ser fevereiro o mês do deus Plutão que regia os Infernos, e julgava as almas. Com base nessas tradições romanas foi introduzida a prática da Quaresma, com a idéia que essa seria a "primavera da alma", já tão presente no mito de Prosérpina, sobre os Mistérios Eleusianos que tratavam da vida e da ressurreição da vida, presentes no renascimento da vida a cada primavera. Justamente por isso a Quaresma coincide com o tempo que antecede o início da estação primaveril no Hemisfério Norte, inclusive em Israel.

Já o numero de 40 dias, se estabeleceu também por seu simbolismo nas Sagradas Escrituras. Por 40 dias e 40 noites, Deus fez cair o dilúvio sobre a terra ( Gn 7,12). Por 40 dias e 40 noites, Moisés ficou no cimo do Sinai para receber de Deus a Lei ( Ex 24,18). Por 40 anos, o povo de Israel se fez peregrino pelo deserto do Sinai até entrar na Terra Prometida. Por 40 dias e quarenta noites, Jesus ficou em jejum no deserto e depois foi tentado pelo demônio no deserto (Mt 4, 2).

Todos esses eventos estão inseridos num contexto de Aliança, entre o Criador e sua criatura. O Dilúvio tem como finalidade a purificação da humanidade e um novo nascimento a partir da aliança com Noé. A estada de Moisés no alto do Monte Horeb (ou Sinai) determina a recepção das cláusulas (o Decálogo) da aliança do Sinai. O longo caminho pelo deserto é o percurso para receber a promessa da aliança com Yavéh. E o período que Jesus passou no deserto preparando para o batismo e o recebimento do Espírito Santo, para iniciar a sua vida missionária e a realização definitiva da Nova Aliança. Portanto, o número 40 nas Sagradas Escrituras evoca uma preparação a um grande evento de salvação promovido por Deus em favor da humanidade para o fortalecimento da Aliança Sagrada entre o nosso Pai e nós.

Assim a celebração da Quaresma, dentro desta tradição bíblica e da tradição litúrgica da Igreja, alcança o seu pleno significado. Ela se compõe de quarenta dias que nos colocam às portas de um Sagrado Encontro. Um encontro que começa com um encontro com nós mesmos, com as nossas consciências, e nos eleva espiritualmente para que possamos ir ao único encontro que sacia os nossos corações, aquele única capaz de preencher os nossos mais profundos anseios, o único que é capaz de dar um verdadeiro sentido às nossas vidas, dando-nos um verdadeiro propósito às nossas existências. A Quaresma nos coloca às portas de um Encontro pessoal com a Nova Aliança. Um Encontro com Ele: o Ressuscitado, o nosso Salvador, JESUS!!!!

E é para esse ENCONTRO AMOROSO que devemos nos preparar, para nos apresentarmos com nossos corações renovados, revividos e repletos de misericórdia e amor, para que recebendo o saber procedente de Jesus e seus ensinamentos nossas almas floresçam  segundo a vontade amorosa do nosso Deus Pai.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 11. O LEGADO DE JOSÉ

JESUS, AMOR & FÉ *


11. O LEGADO DE JOSÉ


O jovem Jesus que entrara no Templo de Jerusalem aos 12 anos e surpreendera os doutores da Lei com sua imensa sabedoria, cresceu em obediência a seus pais, honrado a palavra do mandamento dado por Deus a Moises, sem que nenhuma falta lhe fosse imputada. No livro apócrifo “História de José o Carpinteiro”, há a rica narrativa sobre a morte do pai terreno de Jesus, em que Ele demonstra seu profundo afeto por aquele que o criara e educara. A relação de amor que liga reciprocamente pai e filho é objeto de reflexão sobre o papel da morte em toda existência. A dolorosa separação trazida pela morte inexorável de José, levou Jesus a vivenciar a experiência de se sentir “abandonado" por quem tanto se amou.

Conta Jesus que chegada a hora de seu pai deixar esse mundo, o que é destino de todos os mortais, veio um anjo e anunciou-lhe: “Tua morte se dará este ano.” O espirito de José encheu-se de apreensão . Dirigiu-se a Jerusalém, penetrou no templo do Senhor, prostrou-se diante do altar e rezou sua súplica” (XII-1-2) Na sua narrativa diz Jesus que a vida do pai, o ancião bendito, durou cento e onze anos, conforme determinara o Pai, e que faleceu no dia 20 de julho (26 de Epep). Assim descreveu o que acontecia a José: 

“O ouro purificado, isto é,o corpo de José, começou a descolorir-se; e a prata, isto é, a sua inteligência e sua razão, sofreram alterações. Perdeu a vontade de comer e de beber; e sentiu vacilar a habilidade no desempenho do ofício. Aconteceu então que no amanhecer do dia de sua morte, estando deitado foi acometido de grande perturbação. Lançou um forte gemido, bateu as mãos e, extremamente agitado começou a gritar seus lamentos (…) “Mas Jesus Deus é meu advogado e realiza em mim a divina vontade”. Quando ele proferiu essas palavras, eu penetrei no aposento em que meu pai se encontrava. Vendo-o assim agitado na alma e no corpo, disse-lhe:  “Salve, José meu querido pai, ancião bondosos bendito!” Ele ainda angustiado de medo mortal, me respondeu: “- Salve,mil vezes, querido filho! Ao ouvir tua voz, minha alma recobrou a sua tranquilidade. Jesus, meu Senhor, Jesus meu verdadeiro rei, meu salvador bondoso e misericordioso; Jesus meu libertador; Jesus meu guia; Jesus meu protetor; Jesus, em cuja bondade tudo se encontra; Jesus cujo nome é doce e poderoso na boca de todos; Jesus olho que vê e ouvido que ouve, verdadeiramente, escuta-me nesse momento, a mim teu servidor, quando elevo meus rogos verto minhas lágrimas diante de ti. Verdadeiramente , tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme, muitas vezes, me repetiu o anjo, sobretudo naquele dia em que se aninharam em meu coração suspeitas humanas ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mancha e tinha resolvido abandoná-la. Quando estava dominado por este pensamento, apareceu-me em sonho um anjo e disse-me: - José, filho de Davi, não tenhas dúvida em receber Maria como esposa, pois aquele a quem dará a luz é fruto do Espírito Santo. (…) Tu és Jesus, salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes a mim teu servo a obra da tuas mãos. (…) Se quebrares meus grilhões, eu te oferecerei um sacrifício santo, que não será outro senão a confissão de tua glória divina, isto é, que és Jesus, o verdadeiro filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro filho do homem.” (XVII)

Conta Jesus que quando o pai pronunciou essas palavras ele não pode conter as lágrimas e começou a chorar, vendo que a morte ia se apoderando dele a cada momento e principalmente ouvindo as palavras cheias de dor que saiam de sua boca. Falou Jesus aos discípulos: “Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que eu tinha que sofrer pela vida de todos os homens.” (XVIII)

Essa menção, nos permite considerar que toda a narrativa desse texto sobre a vida e morte de José se deu após a ressurreição, para explicar a natureza da morte. O texto continua com Maria pedindo consolo à Jesus em razão da morte que se aproximava de José. Então Jesus a consolou com as seguintes palavras: “Ó minha querida mãe, quem entre os homens poderá livrar-se da necessidade de enfrentar a morte? Ela é a soberana de toda a humanidade, ó mãe bendita. Também tu morrerás, como todos seres vivos. Mas nem a tua morte, nem a de meu pai José pode ser propriamente chamada de morte; é antes vida eterna, sem fim. Também eu passarei por esse transe, por causa da carne mortal de que estou revestido” (XVIII, 4-8).  

Este é um ponto muito importante, pois na vivência carnal como Jesus, Deus virá a experienciar a morte, porquanto sendo Deus imortal, não possui o conhecimento da deterioração da matéria, menos ainda da dor física que esse processo causa. Ao testemunha a morte de seu pai terreno Jesus assim expressou a sua dor:

“Ó morte, de quantas lágrimas e gemidos és a causadora. Mas este poder te foi dado por Aquele que tem sob seu domínio o universo inteiro. Por isso, tal censura não se dirige tanto à morte quanto contra Adão e Eva. A morte nada faz sem ordem do meu Pai. Alguns vivem até novecentos anos; e outros ainda mais tempo. E nenhum deles disse: Éu vi a morte’ ou ‘vinha de tempos em tempos atormentar-me’. Ela traz a dor uma só vez e, ainda assim, é meu Pai que a envia. Quando vem em busca de uma pessoa, sabe que tal decisão provém do céu. Se a sentença vem carregada de cólera, também a morte se mostra colérica ao cumprir sua incumbência, tomando a alma da pessoa e entregando-a a seu Senhor. À morte não foi atribuída o poder de lançar uma pessoa no inferno nem de introduzi-la no reino celestial. A morte cumpre o mandato de Deus. Adão, pelo contrário por não se submeter à vontade divina, cometeu uma transgressão. Provocou a irritação de meu Pai contra si, por ter preferido dar ouvidos a sua mulher, em vez de obedecer ao mandato divino. Deste modo, todo ser vivo ficou implacavelmente condenado à morte .(…) E porque eu mesmo carrego também esta carne concebida na dor, devo suportar com ela a provação da morte para que eu possa apiedar-me das criaturas por mim formadas.” (XXVIII, 1-10, 14).

 Neste ponto, então, se dá essa revelação do quanto Deus lamenta a atitude de Adão e do quanto anseia pela redenção do pecado mortal adâmico para que sua obra de criação possa retornar ao estado primordial de perfeição por ele criado, o qual só poderá ser alcançado através do livre arbítrio humano de abraçar o bem e renegar o mal.

Ao final da narrativa de Jesus sobre a morte de seu pai terreno, os discípulos expressaram admiração por Jesus, sendo seu filho vindo do Céu, não ter concedido à José a imortalidade para viver eternamente. Jesus então respondeu à eles: 

“A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não perderá a sua força , pois Adão não foi obediente a suas ordens. A transgressão de Adão foi a causa destes grandes males que atingiram a humanidade juntamente como mal irremediável da morte. Quando o meu Pai destina alguém a ser justo, este se torna imediatamente seu escolhido, embora tenha que passar pela morte. Se uma pessoa ofende a Deus por amar as obras do demônio, porventura ignora que virá um dia a cair em suas mãos, caso continue impenitente, ainda que lhe sejam concedidos largos anos de vida? Se, pelo contrário, alguém vive muito tempo praticando sempre boas obras, são justamente estas boas obras que lhe concedem longevidade. Quando Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe curto espaço de vida e o faz desaparecer na metade de seus dias. Além disso, devem cumprir-se com exatidão as profecias emanadas do meu Pai sobre a humanidade e tudo deve acontecer de conformidade com elas. (…) Eu vos digo que ‘Ainda que tivesse alguém vivido dez mil anos, estaria sempre sujeito à mesma necessidade de morrer’. Eu vos asseguro que todos os santos, ou melhor, todas as pessoas que nascem no mundo sejam justos ou perversos, devem necessariamente passar pela morte. Esta é a hora que todo ser vivo precisa da misericórdia divina”. (XXVIII à XXXI)

É a ‘morte’ a razão da vinda de Deus na forma humana de Jesus, como anteriormente mencionei, Jesus seria uma espécie de ‘avatar’ de Deus, termo tirado da tradição hindu que é atribuído a uma manifestação corporal de um ser imortal, por vezes até o Ser Supremo. Deus nessa condição revestido de carne humana deseja tanto experienciar a condição mortal como trazer o consolo sobre o seu real significado no processo de transição espiritual. 

Não foi por acaso que a primeira lição que há quase vinte anos eu recebi de Jesus foi sobre a morte e a sua função no processo de renovação da vida. Disse-me Jesus sobre a morte uma única frase: “A morte fidalga é senhora de todas as coisas”. A frase me calou, pois é observável que nesse mundo em que vivemos tudo morre, não importe quanto tempo leve de vida, um dia morrerá, e deixará de existir. A História documenta amplamente a ação da morte sobre todas as coisas e muito impressiona ao olhar observador que do mais insignificante e diminuto ser vivo ao mais glorioso e poderoso império tudo que existe está sujeito à morte, assim como tudo estará sujeito também ao renascimento, pois é na renovação constante da matéria que a vida, a energia manifesta de Deus, se perpetua e, inexplicavelmente, em sua essência divina se mantém sempre a mesma e se perpetua, pois a vida é o reino de Deus. 

O reino mundano da obra humana tenta inutilmente reproduzir sua percepção do que reino de Deus. Contudo, tudo que é concebido e forjado pela mente humana sem a benção de Deus estará inevitavelmente destinado à destruição, pois só permanece nesse mundo aquilo que Deus permite, pois aquilo que não vem do Pai não permanece. 

A história da vida de Jesus e seu domínio sobre a civilização humana é a prova da poderosa força divina de Deus, portanto renovemos nossa Fé e confiança em Deus, pois a Sua misericórdia jamais faltará àqueles que O amam.

Jesus tinha 18 anos por ocasião da transcendência de José, e esse fato marca a sua passagem para a fase adulta da sua vida, pois com a morte de seu pai Jesus passou a situação de “provedor” em relação a sua mãe, e da mesma forma que José exercendo a profissão de carpinteiro sustentou a sua família com o trabalho de suas mãos, jamais podendo se dizer que comeu seu pão sem trabalhar em conformidade ao que prescreve a lei de Moisés, do mesmo modo Jesus se submeteria à lei apesar de ser quem Ele era, honrando sua mãe em obediência ao mandamento por Ele mesmo proclamado. E, esse foi o legado de José, o pai terreno, à Jesus, seu filho celestial: cumprindo a sina de seu nome, José, que significa "aquele que acrescenta”, ensinou a Jesus tudo o que sabia de como era ser uma pessoa e um bom judeu, e, que mesmo sendo Ele, Jesus, um ser divino, estando na terra era um ser mortal submetido às leis terrenas. E, foi desse modo, que sendo José pai de Jesus na terra e se fez filho de Jesus no céu, pois pelo poder do Espírito Santo de Deus o Pai está no Filho como o Filho está no Pai.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

domingo, 18 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 10. JESUS, A ENCARNAÇÃO DE DEUS REVELADA

JESUS, AMOR & FÉ *

10. JESUS, A ENCARNAÇÃO DE DEUS REVELADA 


Então chegou aquele grande momento em que Jesus revelar-se-ia no Templo de Jerusalém em toda iluminação de sua sabedoria, e é assim que o Evangelho Pseudo-Tomé narra essa passagem em seu último capítulo (XIX):

"Quando estava com doze anos, seus pais fora, como de costume, a Jerusalém para assistir às festividades da Páscoa.
Terminadas as festas, puseram-se de volta para casa.
Na hora de partir, o menino Jesus retornou a Jerusalém. Seus pais pensavam que estivesse na comitiva.
Depois do primeiro dia de caminhada, começaram a procurá-lo entre seus parentes. Como não o encontrassem, sentiram-se muito aflitos e voltaram a Jerusalém à sua procura.
Finalmente, no terceiro dia, o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos estavam presos a suas palavras e se admiraram de que, sendo menino, deixará mudos os anciãos e mestres do povo. Explanava os pontos principais da lei e dos ensinamentos dos profetas.
Maria, sua mãe, aproximou-se dele e disse-lhe:
-Meu filho, porque procedeste assim conosco? Vê com que preocupação estamos à tua procura.
Respondeu Jesus:
- Por que me procurais? Não sabias, por acaso, que devo ocupar-me com aqueles que são do Pai? 
Perguntavam os escribas e fariseus: 
- És, por ventura, a mãe deste menino?
Ela respondeu:
- Sim.
Eles prosseguiram:
- Feliz és tu entre as mulheres, já que o Senhor se dignou abençoar o fruto de teu ventre. Glória, virtude e sabedoria iguais às dele não vimos jamais e nem de coisas semelhantes ouvimos falar.
Jesus levantou-se e acompanhou sua mãe. E era obediente a seus pais.
Sua mãe por sua vez, guardava todos estes fatos em seu coração.
Entretanto, Jesus ia crescendo em idade, sabedoria e graça. A Ele seja tributado louvor por todos os séculos dos séculos. Amém!”

Essa passagem também foi narrada no Evangelho de Lucas, segundo o testemunho dado por Maria a ele, e encontra-se no no Capítulo 2, versículos 41 a 50.

Entre os judeus era costume que a maioridade masculina se desse entre os 12 e 13 anos, e até hoje esse costume se perpetua na cerimônia do Bar Mitzvah, quando o jovem faz a leitura das sagradas escrituras do judaicas dando início à sua vida como um verdadeiro judeu. Portanto, essa passagem é relevante do momento que enseja uma tradição secular entre os judeus. Cabe aqui também mais palavras nos deixadas pelo profeta Isaías, para que compreendamos a natureza divinal de Jesus, escreveu o profeta:

"Ouvi-me voz que segui a justiça e que buscai o Senhor! ... Povos, escutai bem, nações prestai-me atenção! Pois é de mim que emanará a doutrina e a verdadeira religião que será a luz dos povos. De repente minha justiça chegará, minha salvação vai aparecer, meu braço fará justiça aos povos... O espírito do Senhor repousa sobre mim, pois o Senhor consagrou-me pela unção, enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, aos prisioneiros a liberdade...Com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e coração exultará de alegria em meu Deus, porque me fez revestir as vestimentas da salvação... Porque quão certo o sol faz germinar seus grãos e um jardim faz brotar suas sementes, o Senhor Deus fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações" (trechos de Isaías Caps. 51 e 61).

Compreendamos então o maravilhoso milagre que aconteceu com a encarnação de Deus em Jesus, pois hoje temos mais inteligência e sabedoria para entender que isso não é uma mera alegoria religiosa de algumas mentes criativas humanas, mas um fato que se reafirma como verdadeiro há centenas e centenas de anos a cada pessoa que levanta a sua voz e diz: "- Eu creio em Jesus, filho de Deus Pai Todo Poderoso!!!!”

Um menino nasceu para a humanidade, e Deus estava nele, Ele era a própria voz de Deus a ensinar as pessoas como poderiam ser perfeitas aos olhos do Pai, apenas sendo o melhor delas mesmas e dando o melhor de si em tudo que fizessem, bastava para tanto evitar o mal e abraçar o bem. 

Esse menino cresceu e sua história foi contada a muitas gerações até chegar até nós. Essa nossa geração cientifica e realista, que investiga a vida de um Jesus histórico como se nisso pudesse encontrar as respostas com seus corações frios e sem fé. Cogitam de modo humano de onde viria tanta sabedoria de Jesus, pois o julgam como um ignorante, pobre e analfabeto, quando Ele não era e não é nada disso que imaginam inutilmente. 

Jesus veio para conhecer os "modos e maneiras" humanas e investigar por qual motivo o ser humano não desistia de fazer o mal e de causar a própria infelicidade. Para isso, bastava que Ele convivesse tal como conviveu no seio da própria família e com as pessoas de sua comunidade, pois no pequeno se encontra todo um mundo, no seio de uma família se pode conhecer as venturas e desventuras da vida, a alegria e a tragédia da existência humana. 

E era essa apenas a experiência que Deus queria experimentar, ser uma pessoa comum como qualquer outra, uma criatura normal tal como Ele a fez no princípio da Criação. Só sendo Ele tanto criador  como criatura poderia mostrar a natureza divina que o ser humano foi destinado. Mas, apesar da natureza expiatória de sua demonstração do quão grandioso poderia ser o ser humano a ponto de vencer a própria morte, mesmo assim a descrença permaneceu  em muitos corações, que se afeiçoam mais ao mal do que ao bem, e   persistem em ter prazer com a própria infelicidade. 

A despeito de toda lógica e inteligência persiste a insatisfação do ser humano em não ser o próprio Deus, tornando-se tal atitude a única razão do mal que perverte o destino humano. E nisso reside a  mais crucial diferença entre o ser humano e Deus: o ser humano gosta de pensar que pode ser Deus, enquanto Deus não pensa que é um ser humano, ele se fez humano! Destarte, o ser humano só pode conhecer Deus através de Deus e não por si mesmo.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 9. JESUS, O MENINO SÁBIO

JESUS, AMOR & FÉ *

9.  JESUS, O MENINO SÁBIO

O bom José zeloso de seu dever de pai não desistia de encontrar um mestre adequado para Jesus. Após a humilde desistência do mestre Zaqueu de ensinar uma criança que se assenhorava de tanta sabedoria, levou algum tempo que José encontrasse alguém disposto a tal difícil tarefa de ensinar os modos humanos a quem ele sabia que vinha de cima e de humano nada tinha.

"Vendo José que a inteligência do menino amadurecia com a idade, intentou de novo que o menino não ficasse analfabeto. Levou-o, por isso a outro mestre e o pôs à sua disposição.
O mestre disse a José:
- Eu lhe ensinarei primeiro as letras gregas e, em seguida, as hebraicas (*desde a tomada da região palestina por Alexandre, o Grande, em 332 a.C, a cultura grega foi implantada levando o povo judeu ao processo de helenização, que introduziu o grego como segunda língua, mas com a presença romana a partir de 63 a.C. o latim também passou a ser obrigatório).
O mestre conhecia a capacidade do menino e o temia. Depois de escrever para ele as letras do alfabeto, procurava exercitá-lo por longo tempo, sem que ele respondesse.
Disse-lhe Jesus:
- Se és mestre e conheces bem as letras, diz-me primeiro, qual é a força do Alfa e depois eu direi qual é a do Beta.
O mestre, irritado, bateu-lhe na cabeça.
Quando sentiu a dor, o menino o amaldiçoou; e ele. no mesmo instante, desmaiou e caiu de bruços ao chão.
O menino voltou para a casa de José. José se encheu de pesar e disse à mãe dele que não o deixaria sair de casa, porque caíam mortos todos que o contrariavam.

Passado algum tempo, outro professor, amigo íntimo de José, disse-lhe:
- Traze-me o menino à escola. Talvez com brandura eu possa ensinar-lhe as letras.
Respondeu-lhe José:
- Irmão, se te atreves, leva-o contigo.
Ele o levou com muita temor e preocupação, mas o menino foi contente.
Entrou com desembaraço na sala e encontrou um livro sobre a estante de leitura. Apanhou-o e sem parar de ler o que estava escrito, tomou a palavra e começou a falar impelido pelo seu Santo Espírito; e ensinou os preceitos da lei aos circunstantes que o ouviam.
Todos que ali se encontravam, o ouviam atentamente, e, aquele mestre sentou-se perto dele e o ouvia e pedia-lhe que ensinasse mais. Tendo-se reunido grande multidão, ouviram toda a santa doutrina que ensinava e as palavras sublimes que saiam de sua boca; pois ainda que fosse pequeno, dizia tais coisas.
Tendo notícia do fato que muitas pessoas se reuniram na escola, José encheu-se de receio e correu à escola, supondo que também aquele mestre tivesse acabado mal.
Disse-lhe o mestre:
- Irmão, sabes que recebi este menino como qualquer aluno, mas ele está cheio de graça e sabedoria. Só me resta pedir-te que o leves para tua casa.
Ouvindo aquilo, o menino sorriu ao mestre e disse:
- Graças a ti, que falaste corretamente e deste um testemunho justo, será curado aquele mestre que anteriormente foi punido..
Na mesma hora o outro mestre sentiu-se bem, José tomou o menino e foi para casa. " (Evangelho de Pseudo-Tomé Capítulos XIV e XV)
A mais pura verdade é que Deus não gosta dos arrogantes e dos orgulhosos, mas aprecia a humildade daqueles que frente a sabedoria reconhecem que nada sabem. Certamente, Jesus sendo tal  como Deus via a verdade no coração de cada um e reagia conforme a sua sensibilidade, simpatizando com que o amava e antagonizando-se com quem por ele tinha aversão. Isso porque os primeiros que o amavam o enchiam de júbilo e satisfação por demonstrarem que a sua mais importante criação era "boa" e os segundos só faziam reabrir sua antiga mágoa, quando vendo que a maldade do ser humano era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal, o que fez Deus arrepender-se de ter criado o ser humanos terra, tendo o seu coração ferido de íntima dor (GÊN. 6:5-6 "O Senhor viu que a maldade humana era grande na terra, e que todos os pensamentos dos corações humanos estavam continuamente voltados para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o ser humano na terra, e teve o coração ferido de intima dor.").

Mas, o encontro com esse "bom mestre" cujo no nome, infelizmente não foi mencionado no texto, foi como chuva após a estiagem no coração do menino Jesus, e fez brotar uma verdejante esperança que deu vazão à sua divina misericórdia, impregnada do mais profundo amor que só o criador pode ter por sua criatura. Conta assim a narrativa os seguintes episódios miraculosos que refletem essa profunda transformação sofrida por Jesus:

"Noutra ocasião, José mandou seu filho Tiago (o filho menor do primeiro casamento) ajuntar lenha e trazê-la para casa. O menino Jesus foi com ele.
Enquanto Tiago recolhia os galhos, uma víbora picou-lhe a mão.
Caiu por terra e estava para morrer. Jesus aproximou-se dele e soprou-lhe a ferida. Imediatamente desapareceu a dor. O réptil arrebentou-se; e Tiago, no mesmo instante, recobrou a saúde.

Um menino doente, que morava perto da casa de José, veio a falecer. Sua mãe inconsolável, chorava sua perda.
Quando Jesus ouviu falar do sofrimento dela e do tumulto que se formara, dirigiu-se apressadamente para lá.
- Digo-te, ó menino, que não permaneça morto, mas que te conserves vivo e fiques com tua mãe.
Na mesma hora, ele abriu os olhos e sorriu. Jesus disse à mulher:
- Toma-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim.
Vendo isso os circunstantes encheram-se de admiração e exclamaram:
- Na verdade este menino ou é um Deus, ou um anjo de Deus, pois tudo o que sai da sua boca se realiza imediatamente.
Saindo dali, Jesus foi brincar com os outros meninos.

Algum tempo depois, surgiu grande tumulto em uma casa que estava sendo construída. Jesus levantou-se e dirigiu-se para o local.
Viu um homem morto estendido no chão. Tomou-o pela mão e disse-lhe: 
- Homem, eu te digo, levanta-te e retoma o teu trabalho.
O que estivera morto levantou-se de imediato e o adorou.
A multidão que presenciou o fato encheu-se de admiração e dizia:
- Este menino é do céu, pois livrou muitas almas da morte e livrará muitas mais durante sua vida." (Evangelho Pseudo-Tomé XVI a XVIII)
Assim se cumpria as palavras do profeta Isaías: "Que os vossos mortos revivam! Que seus cadáveres ressuscitem! Que despertem e cantem aqueles que jazem sepultados, porque vosso orvalho é um orvalho de luz e a terra restituirá o dia às sombras" (Is. 26;19) Pois maior milagre não pode existir do que trazer um morto à vida novamente.

Eis que o Santo Espírito de Deus se manifestava em Jesus dando vida à palavras do profeta Isaías: 
"Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias a fim de que saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; eu formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas.
Que os céus, das alturas derramem o seu orvalho, que as nuvens  façam chover a vitória, abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso! " (Is. 45:5-8)

Felizes são aqueles que vivem para a alegria e o contentamento de Deus, pois grande é a retribuição que recebem do Pai Amado Todo-Poderoso. Do Pai receberão uma eterna alegria, serão invadidos de júbilo e contentamento e nos seus corações não terão lugar duradouro para tristezas e lamentos, porquanto o próprio Pai será sempre o consolador de suas almas.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 8. A MISERICÓRDIA DO MENINO JESUS

JESUS, AMOR & FÉ *

8.  A MISERICÓRDIA DO MENINO JESUS

Sem dúvida a passagem do mestre Zaqueu na vida de Jesus teve a sua influência benéfica já que a narrativa passa a apresentar um menino Jesus misericordioso e dando vazão aos seus dons milagrosos, como veremos a seguir:

"Dias depois, estava Jesus brincando no terraço de uma casa. Um dos meninos que estavam com ele caiu do alto e morreu. Vendo isso, os outros meninos foram embora e Jesus ficou sozinho.
Vieram os pais do morto, lançaram-lhe a culpa e o maltrataram.
Jesus deu um salto de cima do terraço e caiu junto ao cadáver. E gritou em alta voz:
 - Zenão* ( * nome grego que pode significar "que dá a vida ou "vida de Deus") - era este o nome do menino - levanta-te e responde-me: Fui eu que te atirei lá de cima? 
O morto levantou-se no mesmo instante e disse:
- Não, Senhor. Tu não me atiraste, mas me ressuscitaste.
Os que viram ficaram maravilhados. Os pais do menino glorificaram a Deus por aquele maravilhoso feito e adoraram a Jesus.

Poucos dias depois, estava um jovem cortando lenha nos arredores. Escapou de suas mãos o machado e cortou-lhe a planta do pé. O coitado ia morrendo por causa da hemorragias.
Formou-se grande alvoroço e reuniu-se muita gente.
Também Jesus se dirigiu para lá. Forçou a passagem entre a multidão e chegou até o ferido. Apertou com a mão o pé dilacerado do jovem. E este ficou curado no mesmo instante. Disse, então, ao jovem:
- Levanta-te agora, continua a cortar lenha e lembra-te de mim.
Quando a multidão se deu conta do que ocorrera, adorou o menino dizendo: 
- Verdadeiramente, o Espírito de Deus habita neste menino.

Quando tinha seis anos, sua mãe entregou-lhe um jarro para que fosse enchê-lo de água e o trouxesse para casa. Mas, Jesus esbarrou em outras pessoas no caminho e o jarro se quebrou.
Estendeu, então, o manto com que estava coberto, encheu-o de água e o levou à sua mãe. Vendo essa maravilha, a mãe se pôs a beijar Jesus e conserva em seu coração todas as suas ações misteriosas que o via realizar.

De outra feita, na época da semeadura, Jesus foi com seu pai para semear trigo em seu campo.
Enquanto José espalhava as sementes, também Jesus semeou um grão de trigo. depois da ceifa e da joeira, que separa o trigo do joio, a colheita foi cem coros *(equivalente a 38 mil litros).
Chamou, então para junto de si todos os pobre dentre o povo e repartiu entre eles os grãos. José levou para casa o restante. Jesus tinha oito anos quando realizou este milagre.

José, seu pai era carpinteiro. Fabricava, naquela época, arados e jugos.
Certa vez, o encarregaram de fazer uma cama para pessoa rica *(que não era um móvel usado por todos, e segundo outras fontes esta cama destinava-se ao aposento real do palácio de Jerusalém). Aconteceu, porém, que um dos varais era mais curto do que o outro, porque não fora encontrado dois iguais. José não sabia o que fazer.
Disse-lhe o menino Jesus:
- Põe no chão as duas peças e iguala-as de um lado.
Assim o fez José. Jesus postou-se do outro lado, pegou a peça mais curto e o esticou até ficar tão comprido quanto o primeiro.
José encheu-se de admiração ao ver o prodígio. Beijou e abraçou o menino dizendo: 
"- Feliz de mim, porque Deus me deu esse menino!" (Evangelho do Pseudo-Tomé Capítulos IX a XIII)

Essas passagens apresentam um menino Jesus milagroso, que dá vazão aos seus dons de maneira espontânea segundo a necessidade que se apresenta, agindo como se fosse natural proceder-se daquela maneira, como se isto não o tornasse diferente das outras pessoas. Ou seja, Jesus fazia o que lhe era natural como Deus, cuidando das coisas grandes às pequenas, das impossíveis às corriqueiras, dando a todas a mesma importância. Revelando o seu prazer em atender as necessidades de maneira justa e equitativa, sem distinção de pessoa. 

Em vários momentos da pregação de seus ensinamentos Jesus fala que devemos fazer o bem conforme a necessidade se apresente, devemos ajudar aquele ser que for próximo em seu momento de necessidade e jamais nos desviarmos de ajudar quem estiver necessitado, isso porque é esse o proceder de Deus. 

Seja rico, seja pobre, seja poderoso ou insignificante, não importa Deus sempre está disposto a auxiliar aqueles que confiam em sua ajuda incondicional. 

Por vezes a ajuda divina não é compreendida por nós, mas ela pode estar apenas na calma que sentimos quando temos que resolver um problema que nos é desagradável. Deus nos ajuda quando não nos irritamos com outra pessoa quando sabemos que estamos sendo vítimas de um tratamento indevido e a irritação seria justificada. Sim, pode parecer pouco, mas sentir paz no coração pode ser de grandioso auxílio em vários momentos nas nossas vidas. 

Há quem pense, e conheci muitos que pensavam assim, que não se deve pedir coisas insignificantes a Jesus e nem a Deus, dizem essas pessoas que Deus ou Jesus teriam pedidos muito mais importantes do que os deles para atenderem. Todavia, com esse comportamento  de aparente consideração, por outro lado essas mesmas pessoas também se orgulhavam de dizer que nunca pediram nada a Deus e tudo que conseguiram foi devido ao próprio esforço e mérito. Quanta falta de humildade!!! Quanta arrogância!!! Triste fim tiveram o dia que descobriram tarde demais que nada eram além de pó da terra.

Pois digo a vocês, não se envergonhem de se humilharem perante  Deus, não se envergonhem de dizer que é por auxílio de Deus que tudo vai bem em suas vida ou que foi salvo por Deus,. Não se sintam diminuídos por pedirem tudo o que precisarem a Deus, da pequena a grande precisão, pois Deus conhece toda e qualquer necessidade que possamos ter. Deus é um Pai generoso e amoroso sempre disposto a ajudar seus filhos sem nenhuma distinção para que sejam felizes.

Eu peço tudo a Jesus e com Jesus aprendi a pedir a Deus, e em tudo que preciso sou atendida, mas é preciso antes saber pedir e sabendo pedir todo os milagres acontecem em seu tempo devido, no tempo que Deus achar conveniente para nós. 

Em razão disso nós veremos nas próximas passagens como o menino Jesus sempre reagirá mal frente a arrogância e hipocrisia humana e será surpreendentemente misericordioso e cheio de doçura frente as manifestações de humildade das pessoas, isso diz muito sobre a justiça e a sabedoria de Deus, que brinda com bênçãos não aqueles que as exigem por direito, mas aqueles que nem se julgam dignos delas.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 7. JESUS, O PEQUENO MESTRE

JESUS, AMOR & FÉ *

7.  JESUS, O PEQUENO MESTRE

Pobre mestre Zaqueu, não sabia o que o esperava quando resolveu tomar Jesus como seu aluno...
Após ensinar todas as letras com grande precisão e clareza do alfabeto hebreu, passou a ensinar do Alfa ao Omega do alfabeto grego. 
"Jesus, no entanto, olhou fixamente para o mestre Zaqueu e disse-lhe: 
- Como te atreves a explicar aos outros o Beta se tu ignora a natureza do Alfa*? Hipócrita, se o sabes, explicas primeiro o Alfa assim acreditaremos em ti quando falares do Beta. *(Alfa=△)
A seguir, começou a interrogar o mestre acerca da primeira letra, mas este não soube responder.
Disse, então, Jesus a Zaqueu na presença de todos: 
- Escute, mestre, a constituição da primeira letra e vê como tem linhas e traços médios aos quais se unem traços transversais, conjuntos, elevados, divergentes. Três linhas formam o modelo do Alfa*: homogêneas, equilibradas, proporcionadas. *(Alfa=△)

Quando o mestre Zaqueu ouviu estas e aquelas alegorias da primeira letra, ficou surpreendido diante da resposta e da erudição que Jesus manifestava. Disse aos presentes:
- Ai de mim! Não sei o que fazer! Eu mesmo me procurei a confusão ao trazer para cá este menino.
E dirigindo-se a José que ali estava a acompanhar o filho, disse:
- Toma-o, pois, eu te rogo irmão José. Não posso suportar a agudeza de seu olhar, nem chego a entender suas explanações. Este menino não nasceu na terra; pode até dominar o próprio fogo. Talvez tenha nascido antes da criação do mundo. Não sei que ventre o pode ter trazido, nem que seios o nutriram. Ai de mim amigo! Sinto-me aturdido. Não posso acompanhar o vôo de sua inteligência. Enganei-me, infeliz de mim! Queria ter um aluno e encontrei-me com um mestre.
Amigos reconheço minha confusão. Velho como estou, fui vencido por um menino. É como cair esmagado de humilhação e morrer por causa deste menino, pois, neste momento, sou incapaz de olhá-lo de frente.
Que vou responder quando todos me disserem que me deixei vencer por uma criança? Que vou explicar a respeito de que me disse sobre as linhas da primeira letra grega? Não o sei, amigos, pois ignoro a origem e destino desta criatura.
Por isto, te rogo, irmão José, que o leves para casa. Ele é um ser extraordinário: ou um deus, ou um anjo, ou não sei o que dizer. Enquanto os judeus davam conselhos a Zaqueu, o menino se pôs a rir alto e disse:
- Frutifiquem agora tuas coisas e abram-se os olhos dos cegos de coração. Vim de cima para amaldiçoá-los e chamá-los depois para o alto, pois esta é a ordem d'Aquele que me enviou em vosso benefício,
Quando o menino acabou de falar, todos os que tinham caído debaixo de sua maldição sentiram-se imediatamente curados.
Desde então ninguém se atrevia a irritá-lo, para que não o amaldiçoasse e ficasse cego." (Evangelho Pseudo-Tomé Capítulo VI-3 e 4; Capítulo VII e VIII)

Em perfeita sintonia com essa passagem está o seguinte versículo 8 do prólogo do Livro do Apocalipse no Novo testamento, escrito por São João, o discípulo amado de Jesus, que diz: "Eu sou o Alfa e o Omega, diz o Senhor Deus, Aquele que é que era e que vem, o Dominador." Do mesmo modo essa passagem da infância de Jesus não só se sintoniza-se com a profecia de Isaías como a cumpre nitidamente, tal como foi escrito:

"Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor do Senhor. Sua alegria se encontrará no temor do Senhor. Ele não julgará pelas aparências e não decidirá pelo ouvir dizer; mas julgará os fracos com equidade, fará justiça aos necessitados da terra, ferirá o homem impetuosos com uma sentença de sua boca e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio. A justiça será como o cinto de seus rins e a lealdade circundará seus flancos... Porque a terra estará cheia da ciência do Senhor assim como as águas recobrem o fundo do mar. " Is. 11: 1-9)

Portanto o que se ressalta nessa passagem do mestre Zaqueu é a brilhante inteligência precoce de Jesus. Nenhum texto da Bíblia define melhor a "inteligência" como foi escrito em que Jó, quando esse diz aos seus acusadores que se faziam passar por consoladores o seguinte:

"De onde vem pois, a sabedoria? Onde está o jazigo da inteligência?Um véu a oculta a todos os viventes, até às aves do céu ela se esconde. Dizem o inferno e a morte: "Apenas ouvimos falar dela."
Deus conhece o caminho para encontrá-la, é Ele quem sabe o seu lugar, porque Ele vê até aos confins da terra, e enxerga tudo o que há debaixo do céu.
Quando Ele se ocupava em pesar os ventos, e em regular a medida das águas, quando fixava as leis da chuva e traçava a rota dos relâmpagos, então a viu e a descreveu, penetrou-a e escrutou-a, depois disse ao homem: "O temor do Senhor, eis a Sabedoria; fugir do mal, eis a inteligência.”

Porquanto, a verdade é que aquilo que uma pessoa não o faz de sua própria boa vontade e por amor à Deus, acabará por o fazer seja por temor à Deus, seja por temor de perder a própria vida, contudo antes temesse sim, perder sua alma eterna, a chama divina que anima a sua existência, Pois, quem já muito viveu sabe bem que nada se pode contra a vontade da sabedoria divina, pois Deus está no controle e é sua inteligência que domina todas as coisas. Infelizmente poucos são os sensatos deste mundo, poucos são os que conseguem escapar do domínio do próprio ego e entregar-se ao domínio amoroso de Deus. Felizes são as pessoas de boa vontade, pois delas é o Reino dos Céus e essas poderão ver à Deus e encontrá-Lo em todas as coisas.

Mas, não pensem que esse encontro com o Mestre Zaqueu não foi útil à Jesus, na humildade do mestre Jesus encontrou uma renovada alegria que animou o seu ser e despertou sua misericórdia, e os bons resultados desse encontro veremos em nosso próximo capítulo.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.