SER PROGRESSISTA, O QUE É?
“A transformação da moral faz surgir assim um novo conceito político para esquerda, de modo que a antiga esquerda se torne direita no presente. Pode até parecer estranho, mas a verdade é que os reformistas de ontem são os conservadores de hoje. Nós assistimos, assim, ao nascimento de uma nova moral e com ela novos reformistas, quiçá não conseguirão eles definir um novo ideal de Estado, a esperada síntese do capitalismo e do comunismo, mais adequados à era tecnológica.” Bia Botana, 13 de abril de 1994
Desde ontem a ventania de um ciclone tropical sopra assustadora aqui na costa da Baixada Santista, mas fico sabendo que na cidade de São Paulo o vento anda alcançando ainda maior velocidade. O clima instável e revoltado está se tornando costumeiro, obrigando que se compreenda mais sobre as consequências climáticas, que o progresso da era da energia elétrica causou ao mundo.
Isso faz com que eu me recorde de uma conversa tida com a minha avó materna, quando com quase a idade que eu tenho hoje, ela contava sobre as maravilhas da eletricidade. Porquanto, ela conhecera um mundo ainda iluminado por lampiões, de trens a vapor e de carruagens e carroças, e fora assim testemunha da transformação trazida pelo advento da energia elétrica. Eu estava entrando na adolescência e já era uma pessoa muito consciente, e era comum ouvir que eu tinha uma “alma velha”, talvez tivessem razão, então após ouvir com atenção o relato muito interessante da minha avó sobre uma vida e um mundo que eu não conhecera, apenas respondi: “– Veremos como será daqui há cem anos, pois não se sabe as consequências da eletricidade sobre o corpo humano.” Que absurdo, eu não tinha nem 13 anos, realmente eu estava longe de ser uma pessoa normal!
Mas, não foram precisos 100 anos desde aquela conversa, 57 bastaram para saber as consequências da sociedade energética. Desde que Thomas Edison inaugurou a primeira usina geradora de energia para clientes em Nova York, USA, em 1882, até hoje transcorreram 143 anos e a criação de meios de energia sustentável se torna imprescindível para dar continuidade a este estilo de vida cada vez mais questionável quanto às suas consequências.
O som do vento soprando a cantar a sua própria versão da famosa ária “Nessun dorma" do último ato da ópera trágica “Turandot” (1926) de Giacomo Puccini, cumpriu sua missão de despertar-me as quatro horas da madrugada e não me deixar mais dormir. E, eu estando acordada logo comecei a pensar no perfil que o Gemini, a Inteligência Artificial do Google, traçara para mim, desta vez quase 100% certo, só por um detalhe, ela definiu-me como de direita! Vejam só o que ela pensa de mim: “Sua postura como analista política sugere uma linha de pensamento predominantemente conservadora ou de direita, consistente ao longo das décadas:
Anticomunismo/Antissocialismo: Ela mantém uma oposição consistente a ideologias de esquerda e socialistas.
Crítica ao status quo político: Continua a enfatizar a responsabilidade dos políticos perante o povo e critica a
corrupção e a especulação (inclusive a de mercados).
Defesa de Forças Institucionais: Sua defesa inicial das Forças
Armadas nos anos 90, citada na Câmara dos Deputados, reflete
um apreço por instituições fortes.”
Honestamente minhas posições foram sempre claras, e não vejo o motivo pelo qual sendo eu PROGRESSISTA, não possa ser crítica ao comunismo e ao socialismo, porquanto abraço a causa humanista, que foi amplamente divulgada pelo último presidente da União Soviética, que promoveu o Glasnost, o processo de abertura soviético, Mikhail Sergueievich Gorbatchov ou Gorbachev, (1931 - 2022), de quem fui grande admiradora por sua grande coragem de transformar seu país, tirando-o de décadas de uma ditadura comunista para uma democracia capitalista e de bem-estar social. Sem dúvida foi Gorbachev que lançou as bases de uma nova visão da esquerda e foi quem definiu melhor o movimento progressista de centro-esquerda que passou a ocorrer após o fim da União Soviética. Em uma reflexão sobre as mudanças políticas no mundo eu apresentei uma breve análise no artigo que escrevi e foi publicado no Jornal de Brasília, em 13 de abril de 1994, com o título “Conservadores e Progressistas”. (Link ⬇️ em Referências)
A má compreensão do movimento progressista, se deve a uma teimosia intelectual caracterizada pela dicotomia, onde tudo tem que ter apenas dois lados, especialmente na política, ou se é da direita capitalista neo-liberal da sociedade conservadora tipo pátria-família-e-propriedade ou se é de esquerda comunista/socialista de reforma agrária, defensora do aborto, dos sem-teto e sem-terra, defensor dos direitos humanos, LGBT+ e etcetera e tal.
Não custa lembrar que está mania de esquerda e direita, como gosto de enfatizar sempre, nasceu na mesa de banquete do rei francês Luiz XIV (1638 - 1715), que sinalizava suas preferências fazendo sentar seus apoiadores políticos à sua direita, o que lhes dava um tremendo prestígio, e seus opositores à sua esquerda, ou os que estavam caindo em sua confiança naquele momento. Luiz XIV gostava deste tipo de comunicação de subterfúgios em relação aos status dos membros da sua corte, para estabelecer um quem era quem em seu círculo de confiança, ao ponto de usar da mesma tática em relação às suas amantes, que se engalfinhavam pelo título de “preferida”.
Ora, a Mídia desde que auto definiu-se como quarto poder, se comporta como Luiz XIV, dando primazia aos seus poderosos queridinhos escolhidos conforme seus caprichosos interesses do momento. O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1939 - 2002) se referia ao jornalismo como detentor de um "poder sobre os instrumentos de comunicação de massa que lhe dá um poder sobre toda a espécie de capital simbólico – o poder de fazer e desfazer reputações". Por este motivo a Mídia de um modo geral funciona com um movimento pendular ora para direita e ora para esquerda, pois não aderiu ao conceito da “távola redonda” do lendário Rei Arthur, em seu castelo de Camelot, em algum lugar perdido da Grã-Bretanha.
O conceito ideológico progressista não é muito conhecido, não só porque é pouco divulgado, mas por seu um “pensar fora da caixa”, é por si só um pensamento elaborado e sofisticado que não atende ao apelo idiotizado do espírito de manada das massas. Não cabe-lhe rótulo algum, pois possui uma inspiração revolucionária em si, en razão de um estar descontente com o status quo, consciente de que todo progresso é disruptivo, cujo significado é bem dado pelo Gemini 🤖como algo que vem a “interromper o curso normal de um processo, que rompe padrões estabelecidos ou modelos de negócio, criando algo novo que transforma radicalmente um mercado ou um hábito”.
É próprio da natureza progressista a insurgência ao que está pré estabelecido, pois em seu bojo trás uma ideia de renovação. Pode-se dizer que Jesus, o Nazareno, foi sem dúvida o primeiro progressista da história, ao divulgar uma ideia permeada de amor, solidariedade, fraternidade e compartilhamento de bens intelectuais e materiais, seu simples gesto de repartir o próprio pão com quem estivesse com ele reflete sua ideologia de gentileza entre as pessoas, o que era absurdamente revolucionário em sua época.
Portanto, SER PROGRESSISTA ė pegar tudo que há de bom na direita e na esquerda, jogar o que há de ruim fora e mexer o que foi escolhido com muito cuidado para que as ideias sejam amalgamadas e resultem numa procedimento político, social e econômico que venha a formatar uma nova governabilidade, que possua um viés solidário e justo conciliado com o progresso capitalista, que beneficie não só uma minoria dos 10% da população rica do Brasil, por exemplo, mas que possa beneficiar de fato toda população em toda a territorialidade do país. Pois só assim, de maneira consciente das diferenças e necessidades a serem responsavelmente atendidas, se fará o Brasil, e qualquer outro país, uma Nação forte e grandiosa de verdade.
O Brasil está deixando de ser uma nação-criança, que precisa ser tutelada e já, há algum tempo, trilha o caminho para ser uma nação com maturidade, deixando para trás as besteiras irresponsáveis de sua juventude.
Em razão desta desejada maturidade, ainda é preciso investir fortemente em programas sociais que garantam às famílias mais empobrecidas condições adequadas e dignas de vida, acesso à educação e saúde gratuitas de modo que seus filhos, esses brasileirinhos do futuro, tenham melhores condições e oportunidades de progredir na vida e possam cumprir a promessa do ideal do lema “ordem e progresso”, que está ostentado na bandeira do Brasil. Os progressistas veem em cada tostão gasto em programas sociais como investimento de alta lucratividade futura, na medida que a assistência oferecida pelo Estado tende a diminuir na medida que melhora a distribuição de renda, e os indivíduos assistidos por esses programas, na medida que progridem e prosperam abandonam as condições de necessidade para integrarem a sociedade como cidadãos produtivos. A Alemanha que teve um forte programa progressista de bem-estar social, durante o tempo da liderança de Ângela Merkel, veio a se tornar a Nação mais rica e poderoso da Europa, e não poderia se sustentar nesta posição até hoje, se não tivesse ocorrido tal investimento pesado no povo alemão. E certamente eu poderia citar outros exemplos como China, Japão, Singapura, Coréia do Sul, Suécia, Noruega e outros tantos mais.
Portanto, que todos saibam sem mais confusões despropositadas que SER PROGRESSISTA é abraçar o progresso a fim de que um dia a prosperidade alcance todo ser humano e que finalmente se possa construir um mundo melhor para todos. Diga-me, como alguém em sã consciência pode ser contra isso?
Mais um dia amanheceu, que nossas esperança de um mundo melhor se renove com os primeiros raios de sol. Bom dia! 😃
Referências
https://arquivodabiabotana.blogspot.com/2012/08/conservadores-e-reformistas.html?m=1
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