Translate

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O RACISMO DE MONTEIRO LOBATO

.Amanhã (11/09/2012), às 19h30, estará se realizando na sala do Ministro Luiz Fux, no Anexo II do Supremo Tribunal Federal (STF) a audiência de conciliação sobre a adoção na rede pública de ensino  do livro "As caçadas de Pedrinho" (1933) de autoria do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948). O caso desta disputa teve início em 2010, quando o Conselho Nacional de Educação (CNE) suspendeu a distribuição do livro nas escolas públicas, devido a conteúdo racista presente na comparação feita pelo autor da empregada doméstica, Dona Anastácia, com uma "macaca de carvão". Porém, logo depois, o Ministério da Educação recomendou ao CNE que reconsiderasse sua posição, o que resultou na anulação do veto anterior à obra, desde que as novas edições passassem a incluir uma nota com a  exigência de contextualização histórica da mesma pelos professores. Em seguida o Instituto de Advocacia Racial (Iara) entrou com um mandado de segurança, alegando que a obra de Monteiro Lobato possui expressão de racismo, cultural, institucional e individual, e , que está sendo adotada como um "modelo padrão" para a rede pública de ensino. Em razão disso, o ministro Luiz Fux considerou o caso relevante, pois coloca dois  aspectos constitucionais no foco do conflito: a liberdade de expressão e a vedação ao racismo.

Recentemente republiquei no meu blog "Arquivo da Bia Botana" o artigo SOMOS RACISTAS (clik no link para ler) (Jornal de Brasília, 1/9/1994), onde denunciei os aspectos culturais racistas que impregnam as sociedades contemporâneas. Eu assomarei agora às minhas considerações de então a importância da literatura infantil como fator determinante para que o racismo e outros maus costumes culturais instalem-se de maneira perniciosa na educação de uma criança. 

Particularmente, eu tive a felicidade de iniciar meu amor pelos livros com a leitura das obras do escritor e tradutor carioca Alberto Figueiredo Pimentel (1869 – 1914), que pertenceram a minha avó materna.  O primeiro livro que lí foi o adorável "Contos da Carochinha" (1896), que também foi o primeiro livro infantil editado no Brasil, depois devorei toda a coleção das "Histórias da Vovózinha" às "Histórias do Arco da Velha", encantando-me com com as tradições culturais européias e luzo-brasileiras. Assim, quando chegou a vez de dedicar-me à leitura das obras de Monteiro Lobato eu já possuia uma certa formação de conceitos morais que constituir-se-iam a base da minha educação e uma capacidade de distinguir o certo do errado. Provavelmente, em razão disso, eu não senti muito agrado pelas obras Monteiro Lobato. 

Se na minha meninice eu já não gostava dos livros de Monteiro Lobato e de alguns de seus personagens caricatos, como adulta eu gostaria menos ainda. O sarcasmo com que o autor tratava os mais fracos e destituidos de sorte, sua constantes discriminações raciais, religiosas e especialmente em relação à mulher, sempre causaram-me indignação. Ao meu ver seu personagem "Jeca Tatu" prestou um grandioso desfavor à autoimagem do povo brasileiro tanto quanto o Macunaíma de Mario de Andrade.

Monteiro Lobato pertencia a nata dos fazendeiros paulistas, era o próprio "filhinho de papai", com resquicios de um "sinhôzinho" da era escravocrata, que gostava de fazer caricaturas, mas ao ficar orfão dos pais aos 17 anos foi obrigado pelo avô a entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (Universidade de São Paulo - USP). Aos 29 anos herdou a fazenda do avô, mas logo demonstrou sua pouca competência administrativa para fazer a fazenda dar lucro e atribuiu o seu fracasso aos trabalhadores caboclos rurais, os chamados "caipiras". Por conta de seu insucesso, ele escreveu uma carta verborrágica de ofensas aos caipiras, entitulada "Velha Praga" e enviou para o jornal "O Estado de São Paulo", que a publicou. Frente a polemica despertada entre os leitores a redação do jornal convidou Lobato para escrever um conto sobre o mesmo tema, assim nasceu em 1912 o personagem Jeca Tatu no conto "Urupês", o primeiro sucesso literário de Lobato.

A passagem do tempo revelaria a pouca habilidade de Monteiro Lobato para ganhar dinheiro, apesar dele estar sempre atrás de um negócio que lhe desse um "saco de dinheiro". Assim, com esse intuito Monteiro Lobato abraçou a nova tendência editorial de uma literatura infantil genuinamente brasileira, no desejo de ganhar "rios de dinheiro", chegando até a ter a própria editora, a qual acabaria indo para a falência também.

Em 1926, Lobato cavou uma indicação do governo brasileiro para ser adido comercial na Embaixada do Brasil em Washington (EUA). Antes de partir, ele escreveu em três semanas um livro que tinha por propósito servir como seu "cartão de visitas" no mercado editorial norte-americano, o qual entitulou "O Presidente Negro ou O Choque das Raças", uma obra claramente racista e de discriminação feminina. Ele enfiou seu novo e único livro escrito para adultos debaixo do braço e partiu de malas e bagagens para os EUA em 1927, decidido a ganhar dinheiro fácil, ganhou algum, mas perdeu tudo o que tinha na quebra da bolsa de New York em 1929. Ele retornou ao Brasil em 1931, em piores condições do que quando partira, mas na bagagem trouxe projetos de novos livros infantis, entre eles o "Reinações de Narizinho", publicado em 1931 – reunindo obras anteriores a partir do livro "A menina de nariz arrebitado" de 1920 – e o o inédito "Caçadas de Pedrinho", que foi publicado em 1933. 

A partir de então as obras de Monteiro Lobato monopolizaram o mercado editorial de literatura infantil e posteriormente chegaram a ganhar versões para o rádio e para a televisão. Seus livros permeados de suas idéias de eugênia racial e conceitos racistas e discriminativos expressos de maneira subliminar em simbologias perniciosas, influenciariam mais de uma geração de brasileiros. E se o propósito do escritor era educar as novas gerações sua contribuição foi mais para deseducar, ao ter instituído uma espécie de "bulliying" cultural, promovendo um confronto agressivo de intolerância com as diferenças que separam as pessoas e ao ter derrubado as regras de polidez social, colocando no lugar o tratamento ofensivo e de ridicularização.

Não é de admirar, portanto, que Lobato, indo à falência novamente em 1945, tenha aproximado-se do Partido Comunista Brasileiro, chegando até a ser diretor do Instituto Cultural Brasil-URSS (União Soviética, atual Russia), e, sem mais nem menos, ele tenha transformado o seu antigo personagem que tanto execrava, o "Jeca Tatu", num trabalhador sem-terra esmagado pelo latifundio e simbolo da injustiça social. Este absurdo foi o último ato de sua pena, na tentativa de obter vantagens financeiras com o último modismo da vanguarda  intelectual brasileira elitista afeita às idéias comunistas.

Em vista desta estranha história de vida de Monteiro Lobato, declaradamente um escritor racista e dado a discriminações, o ministro Luiz Fux terá amanhã uma questão extremamente delicada para conciliar. no STF, em Brasília. A questão envolvendo a adoção ou não da distribuição do livro de Monteiro Lobato para as escolas públicas merece inteira atenção dada a importância da literatura infantil brasileira na formação das novas gerações de brasileiros e o cuidado que se deve ter com os nossos brasileirinhos. Não é uma questão de "censura", mas de estabelecer uma idade adequada para a leitura das obras infantis de Monteiro Lobato, uma idade que permita a análise e a reflexão sobre as idéias do autor como um reflexo de seu tempo, idéias essas subjetivas da visão que Lobato tinha do seu "mundo particular" em que viveu, mas, que, absolutamente, não podem ser consideradas como uma regra-geral de comportamento de uma época, muito menos ainda de toda sociedade brasileira da primeira metade do século XX, pois um grande número de pessoas discordavam enormemente das idéias de Monteiro Lobato e seus livros infantis chegaram a ser proíbidos em muitos lares brasileiros, exatamente em razão da má educação e mau exemplo de seus personagens.

DESDOBRAMENTO DA NOTÍCIA:

12/09/2012



Consultor Jurídico - ‎há 8 horas‎
A discussão sobre o possível conteúdo racista na obra de Monteiro Lobato chegou ao Supremo por meio de Mandado de Segurança impetrado pelo Iara e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto, da Universidade de Brasília ...


...O livro Caçadas de Pedrinho foi publicado em 1933. É adotado por escolas públicas e faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Na grade curricular, é classificado como livro de leitura obrigatória. O advogado Humberto Adami, que representa o Iara, afirmou que a intenção da ação não é censurar a obra de Monteiro Lobato ou impedir que seja adotada em escolas.
“Ninguém quer banir nada, nem censurar. O que não se pode é tratar a discussão como se fosse uma banalidade, com argumento de que o autor escreveu isso em outra época. Na verdade, há um problema sim. Isso provoca a realimentação e a reinvenção do racismo em sala de aula. Não adianta fazer campanha de educação para combater bullying se você não ensina as crianças que elas não podem chamar a colega de macaca preta ou dizer que ela vai subir na árvore como uma macaca de carvão. Isso provoca um efeito deletério”, afirmou...

veja.com - 7 horas atrás
... de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino terminou nesta terça-feira sem acordo. Com a participação de representantes do Ministério da Educação, ...

Globo.com - 6 horas atrás
No entanto, o governo ainda vai analisar se implementará ações práticas para evitar analogia à discriminação com o uso da obra de Monteiro Lobato, como ...
Jornal da Mídia - 30 minutos atrás
Brasília – A polêmica sobre racismo em obra do autor Monteiro Lobato ainda não foi encerrada. Terminou sem consenso a audiência de conciliação realizada ...


Jornal do Brasil - 2 horas atrás
A polêmica envolvendo o escritor Monteiro Lobato ainda está longe de terminar. Nesta terça-feira, após mais de três horas de discussão, ...


Jornal do Brasil









SAIBA MAIS:



www.joped.uepg.br/2010/anais/oral/20028_2_FINAL.pdf - Em cache
Alberto Figueiredo Pimentel. Um dos primeiros autores desta época que passou a adaptar os contos europeus foi Alberto Figueiredo Pimentel, nascido no Rio ...

www.pucrs.br/edipucrs/CILLIJ/.../Literatura_de_Monteiro_Lobato.pdf - Em cache - Similares
Trabalhar com as obras de Monteiro Lobato é fazer emergir a fantasia e a criatividade, já ... positiva. Ele deu à literatura infantil uma nova roupagem, olhou -a com outros .... infantil e juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o ...

pt.wikipedia.org/wiki/O_Presidente_Negro - Em cache - Similares
O Presidente Negro (originalmente denominado O Choque das Raças ou O Presidente Negro, e posteriormente, O Presidente Negro ou O Choque das Raças: ...

www.scarium.info/.../o-presidente-negro-sintese-do-pensamento-racista-de- monteiro-lobato/ - Em cache - Similares
16 ago. 2009 ... Em O Presidente Negro ou Choque das Raças (Editora Globo, 2008), publicado originalmente em 1926, Monteiro Lobato, neste seu único ...

books.google.com/books/about/O_presidente_negro.html?id...
'O presidente negro' é o único romance adulto de Monteiro Lobato. Embora ainda não tivesse pisado em terras norte-americanas quando escreveu esse livro, ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário