Translate

sábado, 22 de novembro de 2025

CULTURA DA DESINFORMAÇÃO

CULTURA DA DESINFORMAÇÃO 


BIA BOTANA



De tempos em tempos, eu faço a busca do meu nome (entre aspas) no Google, com o objetivo de averiguar se há alguma informação falsa, que exija a minha atenção, pois tenho apreço pela minha boa reputação, construída em mais de 20 anos de presença ativa na Internet. Contudo, desde de 1° de outubro de 2025, a Inteligência Artificial do Google passou a oferecer no início da busca também o meu perfil. A princípio a IA do Google usou as informações corretas do meu perfil do LinkedIn, mas eu acho que o site de profissionais se deu conta do uso indevido das informações privadas de seus usuários e bloqueou a IA do Google. Então, a IA do Google foi para as redes da Meta Platforms (Facebook, Instagram) onde meus perfis são privados, mas minhas interações com outros perfis são agora obrigatoriamente de conhecimento público. Em pouco tempo meu perfil traçado pela IA começou a ficar cada vez mais confuso, lembrando-me a fofoca que vai sendo aumentada contada de boca e boca e vira um tal absurdo que nada tem a ver com o fato de origem. Aconteceu-me uma vez em 1994, estar sentada numa mesa com uma dezena de jornalistas de Brasília no restaurante Florentina, e ter que ouvir os comentários que faziam sobre mim e não sabiam os fofoqueiros que era de mim que estavam falando. Depois de falarem um bocado de tempo, eu resolvi apresentar-me e ficaram chocados por eu não ser uma mulher feia, velha e com verruga na ponta do nariz. Afinal, para eles uma mulher bonita, elegante e educada, não podia ser inteligente. 


Na semana passada, eu atualizei meu perfil do Google e também fiz um feedback da IA para o Google corrigindo as informações erradas, mas parece que a IA do Google sofre do mesmo mal dos jornalistas do Florentina. Pois, ontem, para minha surpresa a IA do Google, me transformou em “influencer”, casou-me com um Zé Mané qualquer (sendo que sou solteira, pois nunca casei-me, juntei-me) e o mais hilário, deu-me um filho pequeno, enquanto meu filho tem 47 anos! Pode um absurdo deste? O que comprova que quanto mais informação maior o embotamento de quem a processa, seja inteligência humana ou inteligência artificial. 


“Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.

Sigmund Freud.

 

Em  5 de novembro de 2022, Gabriel Medeiros, escreveu um excelente artigo, entitulado “Tóxico: você ou a rede social?” (Link disponível abaixo em Referências), em que fez a seguinte colocação: “… onde coabitam duas pessoas existe convivência e onde há convivência, há embaraço social. Imagina em um aplicativo com 1 bilhão de usuários.” 


A questão é que a Internet com suas redes sociais virou uma central de fofocas dos tais “parasociais” (palavrinha do ano do dicionário Cambridge), que se acham “íntimos” de gente que nunca viram na vida, do mesmo modo que nos tempos do século passado havia quem julgasse que personagem de telenovela era real, essa falta de senso se dá agora com estes “parasitas” de celebridades e influenciadores, a ponto de quem vira famoso por algum motivo, logo descobrir as agruras da fama, desejando voltar ao anonimato. 


Hoje eu não digo mais o ditado “diga-me com quem andas que eu te direi quem és”, digo mais acertadamente: “diga-me de quem falas e como falas, que eu te direi quem és.” Porque se sabe mais qual é o caráter de uma pessoa observando de quem ela fala e como fala. Freud estava certíssimo! 


É inquestionável que a Internet é seu  excesso de comunicação é uma gigantesca Torre de Babel. A passagem bíblica contida no livro do Gênesis (11:1-9), teria ocorrido após o dilúvio e de Noé, quando a nova geração de seres humanos tinham uma só língua e já faziam uso da olaria para construir habitações de tijolos. Na sua ambição disseram-se: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face da terra”. Todavia, Deus teria visto a obra humana e considerou: “Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua, se começam assim, nada impedirá futuramente de executarem todos seus empreendimentos”. 


Antes do dilúvio, Deus tivera uma péssima experiência com os humanos e dissera sobre eles: “Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne e a duração de sua vida será de 120 anos”. (Gênesis 6:3) Está escrito que  : “O Senhor viu quem a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de intima dor”. (Gênesis 6:5 e 6). Daquela feita, Deus decidiu destruir a sua criação, mas por conta de ter encontrado um único homem bom, não o fez e até estabeleceu uma aliança com este homem chamado Noé que “nenhuma criatura será mais destruída pelas águas do dilúvio e não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. (Gênesis 9:11). Portanto, Deus conhecia a natureza maliciosa do coração humano, e para proteger a humanidade de si mesma decidiu confundir a linguagem entre os humanos de sorte que já não compreendessem mais uns aos outros e por isso os dispersou por toda terra daquele lugar na planícies da terra de Senaar (ou Sinar) na Mesopotâmia. E, por isso, foi dado o nome de Babel ao local, porque ali Deus confundiu a linguagem de todos habitantes da terra e os dispersou pelo mundo. Não é, pois, a comunicação entre os humanos um mal, mas o mau uso que os humanos fazem dela. 


Em 24 de abril de 2013, Luciano Martins Costa, em seu artigo “O mal do jornalismo tóxico”, publicado no Observatório da Imprensa, escreveu:

“A leitura de algumas colunas abrigadas em páginas e sites de jornais e revistas pode passar ao leitor a impressão de que o Brasil está mergulhado em uma conflagração política, na qual se alinham, de um lado, o governo federal e seus aliados, e, do outro, os partidos de oposição e a imprensa hegemônica.

Essa circunstância tem motivado altercações, que se espalham pelas redes sociais digitais e produzem uma algaravia de opiniões ruidosas. O ponto comum dessas manifestações é o radicalismo ideológico conduzido por um discurso corrosivo, que, diante da baixa credibilidade das instituições republicanas, tem enorme potencial para produzir estragos na democracia.”


Portanto, há doze anos o “jornalismo militante” se tornou um instrumento politico dado o sucesso alcançado na Primavera Árabe de dezembro de 2010 a dezembro de 2012. A bem da verdade esse tipo de jornalismo tóxico surgiu no pós guerra a partir de 1948, no tempo do jornalismo impresso e radiofônico, e deu ao jornalismo o poder de “erguer e derrubar reputações” sendo chamado de 4° Poder, por influenciar a sociedade, atuando em confronto aos três poderes institucionais do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), como a voz popular, apesar de na maior parte das vezes ser a voz dos proprietários de veículos de mídia, sendo os jornalistas e reporters meros peões num jogo de poder muito maior que eles. 


Desde o advento das redes sociais e seu papel cada vez maior de influência social nas várias esferas de atuação seja comercial, política, religiosa e moral, nós estamos vendo o exercício de um jornalismo de “sobrevivência”, onde o princípio ético de fidelidade ao fato é à informação está virando uma cultura de desinformação, com fatos multifacetados e analisados sob óticas tendenciosas tornando a sociedade míope para a realidade. 


Darei alguns exemplos recentes. Em outubro um professor universitário norte-americano que ensinava sobre a influência do movimento fascista na Europa antes e durante a Segunda Guerra Mundial, foi obrigado a se mudar para a Espanha com toda família, devido a perseguição sofrida pelo nova-extrema-direita que ganhou poder com o Governo de Donald Trump. Até poucos anos, o fascismo e o nazismo (sistemas políticos de extrema direita) eram exemplos da condição miserável que governos autoritários e opressivos traziam à humanidade, porquanto defendia-se a democracia em seus termos de progresso social e de melhor distribuição de renda, considerando o fato que uma sociedade pacífica progredia mais que uma sociedade belicosa. Neste ano de 2025, a humanidade completa 80 anos de uma relativa paz, com pontos isolados de conflitos bélicos desde 1945, demonstrando que a história humana não se escreve apenas com narrativas de guerras. Nunca antes a sociedade humana progrediu tanto em conhecimento científico e intelectual como nos últimos 80 anos, não há um comparativo na história de nossos antepassados com as circunstâncias presentes do alcance da inteligência humana.


No século XIX, a ordem estabelecida pela burguesia capitalista e liberal , foi confrontada por novos representantes da Esquerda, pois a a burguesia de outrora, assim alcunhada durante a monarquia era a nova aristocracia, cujos modos provocaram dois movimentos; o socialismo nascido na Revolução Francesa (1789-1799) revisado durante a Comuna de Paris de 1871 e o comunismo concebido pelo judeu-prussiano Karl Marx convertido ao luteranismo (protestante), que em plena Londres da Revolução Industrial lançou seu panfleto “Manifesto Comunista” de 1848, que insuflaria a Revolução Comunista Russa de 1915 e a Revolução Comunista Chinesa de 1931. A insurgência destes dois movimentos sociais contra a aristocracia burguesa capitalista liberal fragmentou o mundo no período pós grande guerra, conhecido como Guerra Fria, cujas consequências vivemos atualmente. 


Nestes dias, passado o primeiro quarto do século XXI, se viu o absurdo de uma notícia verídica dada pelo portal G1, do grupo Globo, (link disponível abaixo em Referências) em que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América (EUA) aprovou uma resolução que condena os "horrores do socialismo", nesta sexta-feira (21).

Relata a notícia que com um placar folgado, 285 votos a favor e 98 contra, a aprovação foi garantida pelo apoio de 86 deputados democratas, que se juntaram aos colegas republicanos, que foram unânimes em seu apoio à proposta. Disse o texto: “A Câmara dos Representantes resolveu que o Congresso denuncia o socialismo em todas as suas formas e se opõe à implementação de políticas socialistas nos Estados Unidos". 


Políticas Socialistas, o que são? É natural que se pergunte do que se trata, ao menos para se esclarecer o entendimento ou para refrescar a memória deixada nas cadeiras da escola. A saber, como dito antes, o socialismo se desenvolveu como uma reação aos excessos da classe capitalista liberal aristocrata, an elite burguesa emergente após a revolução contra a nobreza europeia. Por sua vez,  a revolução industrial que deu origem a uma nova classe social, a dos trabalhadores das fabricas, os proletários, que deu nome à classe do proletariado. 


O socialismo,  oriundo do Iluminismo defendia a  igualdade, a fraternidade e a liberdade, lema das revoluções burguesas. Na metade do século XIX, o socialismo formalizou-se como uma doutrina política, econômica e filosófica que defende mudanças na sociedade para promover maior igualdade social. Foi durante o período inicial da industrialização que esses valores, propuseram uma reorganização da sociedade, baseada em cooperação e solidariedade, para proteger o bem-estar da maioria.

Na economia, o socialismo se opõe ao liberalismo. Enquanto o liberalismo (capitalismo) se apoia na propriedade privada e no mercado, o socialismo valoriza a produção orientada para as necessidades de todos, e não para o lucro de alguns. O socialismo inspirou Karl Max elaborar a sua teoria comunista, mas não se deve confundir socialismo com comunismo, pois são pensamentos muito diferentes. 


No decorrer da Guerra Fria (1947-1991), o mundo foi polarizado em Direita (Capitalista e Liberal) e Esquerda (socialismo ou comunismo). Esperava-se que essa polarização se dissolvesse com o final da Guerra Fria. Em 13 de abril de 1994, eu escrevi um artigo para coluna de opinião do Jornal de Brasília, entitulado “Conservadores e Reformistas” (link abaixo em Referências) onde finalizo arrematando o texto com o seguinte parágrafo: “A transformação da moral faz surgir assim um novo conceito político para esquerda, de modo que a antiga esquerda se torne direita no presente. Pode até parecer estranho, mas a verdade é que os reformistas de ontem são os conservadores de hoje. Nós assistimos, assim, ao nascimento de uma nova moral e com ela novos reformistas, quiçá não conseguirão eles definir um novo ideal de Estado, a esperada síntese do capitalismo e do comunismo, mais adequados à era tecnológica.” Esta minha visão para um futuro melhor é possível ser observada no Estado chinês contemporâneo, onde capitalismo e comunismo estão sendo amalgamados de maneira surpreendente, mas não é o que está acontece atualmente nos Estados Unidos, com um governo de extrema-direita,  exacerbadamente capitalista e liberal com seus trilhões de patrimônio e terrivelmente cristão! 


Nunca antes se usou tanto o nome de Jesus, em sua forma na titularidade de nobreza de Cristo. Sim, pois Cristo não é sobrenome de Jesus, “Cristo" é um título, derivado do grego "Christós", ele significa "Ungido" e é uma tradução do hebraico "Mashiach", ou Messias. Ao dizer "Jesus Cristo", está se referindo a "Jesus, o Ungido" ou "Jesus, o Messias”. Várias vezes Jesus repreendeu quem o chamasse publicamente como Messias. A razão para a sua cautela no uso do termo "Messias" é que a maioria dos judeus esperava um Messias que os libertaria politicamente do domínio romano. Jesus, não era esse tipo de “Messias”, antes apresentava-se como um salvador da humanidade, trazendo um despertar da consciência humana  para um reino espiritual, não correspondendo às expectativas políticas e militares dos judeus de sua época. E, se até hoje o uso do título de Cristo se perpetua é em razão de uma desinformação de herança civilizacional do Império Romano, responsável pela fundação do Cristianismo como uma religião universal para uso de seu Estado teocrático, a partir do século V.


Isto posto, há algo ainda muito mais irônico, sem dúvida nenhuma e sem faltar com a verdade, Jesus foi o primeiro revolucionário socialista da história da Humanidade, seus ensinamentos são claros e indiscutíveis: o acúmulo de riquezas é condenável, compartilhar os bens terrenos é um dever, amar a Deus é obrigação, amar ao próximo e perdoar o inimigo são práticas de todo aquele que serve aos propósitos de Deus. Todos os ensinamentos de Jesus remetem ao socialismo e ao cooperativismo social. Então, não se deve seguir os ensinamentos de Jesus mais? Então, como um verdadeiro seguidor de Jesus, esses que se chamam cristãos sejam católicos ou protestantes, conseguem viver em tão grandiosa hipocrisia? Só dá para entender isso, considerando uma consolidada cultura de desinformação praticada pela sociedade patriarcal da aristocracia burguesa desde o século XVIII. Uma cultura patriarcal que se estende hoje de maneira absurda através da Internet e suas redes sociais atingindo seus bilhões de usuários, numa lavagem cerebral que faz das mentiras verdades e das verdades mentiras, num processo que está embotando a inteligência humana de tal forma que poderá condenar a humanidade a uma mudança para simplesmente as coisas continuarem as mesma, e poucos exercerem seu domínio sobre as muitas vítimas da engrenagem da exploração do homem pelo próprio homem, esta que escreve a verdadeira narrativa da história da humanidade. 


Chegou-se a um ponto tal, em que não será um evento apocalíptico externo trazido pela vontade de Deus que pode acabar com o mundo em que vivemos, mas, sim, o comportamento insensatamente doentio da ganância humano, o mesmo que outrora levou à construção da torre de Babel. E o pior, a propaganda de desinformação está levando a melhor fazendo que as pessoas fiquem nas suas bolhas, em seus mundinhos e cegos para tudo o mais. Como vi ontem, quando uma amizade de rede social, e chamar de “amizade” me parece um eufemismo para uma desconhecida, postou uma foto onde se lia em letras garrafais: SOU INSUPORTAVELMENTE DE DIREITA. Será que ela tinha entendimento do que se dizia ser? Ou estava com embotamento mental? Pedira minha amizade por que? Afinal sou progressista humanista convicta, e seguidora praticante dos ensinamentos de Jesus. Desamiguei no ato! 😂


Novamente citarei o artigo de Gabriel Medeiros para encerrar a linha de pensamento deste texto: 

“Analisando os fatos em uma linha cronológica, sem tentar dividir as coisas entre pré e pós-militância na internet, o fato é que nossos pais e avós, tiveram a oportunidade sensorial, única, de se sentarem em frente à TV, cultivando o dom do silêncio, de curtir cada momento de vácuo cerebral, sem pensamentos, sem raciocínio, cultuando apenas o absoluto nada.

Hoje, a única possibilidade remota de você alcançar esse “orgasmo mental”, é saindo das redes sociais.”


Estou já há mais de 15 dias sem atuar nas redes, e quanto mais fico longe, mais se expande a minha consciência de que, como bem disse Jean-Paul Sartre, mais do que nunca: “o inferno são os outros”.


REFERÊNCIAS 


Tóxico: você ou a rede social? – Revista da Anicer


https://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/o_mal_do_jornalismo_toxico/


https://g1.globo.com/google/amp/mundo/noticia/2025/11/21/camara-dos-eua-aprova-resolucao-condenando-socialismo.ghtml


ARQUIVO DA BIA BOTANA: CONSERVADORES E REFORMISTAS

Nenhum comentário:

Postar um comentário