Translate

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 13. O MISTÉRIO DO JEJUM DE JESUS NO DESERTO

JESUS, AMOR & FÉ *


13. O MISTÉRIO DO JEJUM DE JESUS NO DESERTO

Alguém poderá me recordar que Jesus foi batizado primeiro e depois foi para o deserto ser tentado por Satanás. Convenha-se que isso não faria o menor sentido nem em termos da tradição religiosa judáica, menos ainda considerando que Jesus era o “avatar” do próprio Deus desde a sua gestação e nascimento. Novamente temos que recordar as limitações dos nossos irmãos do passado, apesar de alguns terem dado seu testemunho tendo a graça de acompanhar os eventos da manifestação da passagem de Jesus pela Terra Santa, paradoxalmente, nós apesar de não termos sido testemunhas ocular viemos a crer e, mais do que isso, nós fomos agraciados com novos conhecimentos que nos permitem até dizer que que podemos conhecer melhor Jesus hoje do que os contemporâneos do seu tempo. 
Outro ponto é que os romanos por ocasião da formação da religião romana cristã não possuíam um perfeito conhecimento da religiosidade dos judeus, além do que a barreira linguística contribuía para guardar os conhecimentos do Deus dos judeus, sobre o qual  os judeus tinham um sentimento de “propriedade”, porquanto segundo a tradição mosáica os judeus é que formavam o “o povo escolhido” de Deus. O conceito de um Deus “universal” não era bem aceita entre os judeus, que exerciam a descriminação como parte cotidiana de sua cultura. Apesar de um de seus principais profetas, Isaías, o qual nascera no ano de 760 a.C., de uma família nobre do reino de Judá, e sendo chamado por Deus no ano de 740 a.C. ao ministério profético - que exerceu por cerca de 50 anos-, ter se consagrando pelo acerto de suas profecias e mais do que isso pode-se dizer que Isaías não só foi o profeta do Messias, mas, também foi o profeta que revelou uma face misericordiosa e universalista do Deus dos judeus. Por esses motivos o livro profético de Isaías é uma leitura obrigatória para todo aquele que almeja ir ao encontro de Jesus e seguir seus ensinamentos.
Ora, Jesus aos 20 anos, como todo bom judeu, fez o seu recenseamento pagando o imposto devido ao Templo de Jerusalém, como contribuição devida ao Senhor em resgate de sua vida, tal como foi estabelecido na Lei (Êxodo 30:11-16) passando assim a integrar oficialmente o “povo de Deus”. Também, como bom filho não desamparou a sua mãe e dela cuidou até que o tempo de sua manifestação pública, a sustentando com o suor de seu trabalho de marceneiro, ofício que aprendera com seu pai terreno José. Muito se especula erroneamente o que Jesus teria feito nesse tempo que é um hiato na sua história terrena. Imagina-se muitas coisas, muitas aventuras, como se o próprio Deus precisasse disso! Mas, ninguém pensa no óbvio - no mais simples, talvez porque o óbvio é a verdade que não se quer ver-, que aquilo que Deus queria conhecer estava justo na simplicidade da vida humana e não na sua pompa e circunstância. É no seio da vida familiar e na convivência comunitária que Jesus poderia compreender a profundidade da natureza humana. Jesus, Deus em seu avatar terreno,  teve a oportunidade de vivenciar os anseios e as inquietações de um jovem adolescente e depois a complexidade da vida adulta e suas exigências, inclusive, tendo a oportunidade de se apaixonar, de amar e dar vazão as suas necessidades hormonais, da mesma forma que estava sujeitos às funções orgânicas do seu corpo físico (isso mesmo, Jesus também urinava e evacuava do mesmo modo que comia e bebia!!!). Portanto, não tenhamos a tola ingenuidade que Deus sendo o criador do “sexo” não o fosse experimentar na condição humana, do mesmo modo que experimentou comer, beber, rir, chorar, dançar, brincar e tudo o mais que faz parte da vida humana. Eu acho uma graça imensa quem prega uma vida de Jesus sem “necessidades” físicas, se assim o fosse, não haveria pois também a necessidade de morrer. Destarte, que o primeiro passo para compreender o Jesus divino é compreender o HOMEM JESUS!!!
A pratica de qualquer forma de “jejum” visa promover uma mudança de estado da consciência, de um estado materialista para um espiritualizado. Essa é uma prática comum desde que o mundo é mundo entre os que buscam elevar-se, e como diria Buda, de quem busca a “iluminação”. Sem dúvida segundo o costume religioso dos  judeus os homens com vocação para servir o Senhor (Yavéh, Javé, ou Jeová), fossem eles profetas, rabis ou mestres teriam que passar por um ritual de consagração para se tornarem “santos" para Deus.  Está escrito no livro sagrado do Levítico: 21;8 “Terás, pois, o sacerdote por santo, porque ele oferece o pão (pão ázimo, maná) de teu Deus: ele será santo para ti, porque eu, o Senhor que vos santifico sou santo”.  Mais adiante se lê no livro sagrado dos Números 6;2-4: “Quando um homem ou uma mulher fizer o voto de nazireu * (em hebráico ‘nazar’, que significa separar, consagrar) separando-se para se consagrar ao Senhor abster-se-á de vinho e de bebida inebriante; não beberá vinagre  de vinho, nem vinagre de outra bebida inebriante; não beberá suco de uva, não comerá nem uvas frescas, nem uvas secas. Durante todo o tempo de seu nazireato não comerá nenhum produto da vinha , desde as sementes até as cascas de uva".  
Os jejuns mais famosos na tradição judaica são os jejuns de quarenta dias de Moisés e de Elias. Daniel, o profeta, jejuou na preparação para receber as suas revelações. Segundo a tradição o grande profeta Elias teria fundado a comunidade dos essênios, no monte Carmelo. A palavra essênio significa curador ou terapeuta, e seus membros chegavam a viver 120 anos e tinham por costume jejuar por 40 dias uma vez por ano, pois usavam o jejum como uma forma de purificação de seus corpos  e aumentar a sua comunhão com Deus. 
Nós poderemos assim depreender que Jesus faz seu primeiro jejum conforme o costume essênio de forma a vir estabelecer uma total comunhão entre o seu corpo físico, o avatar de Jesus com o seu ser divino de Deus. Esse será o jejum de 40 dias no deserto. O segundo jejum se dará ao modo nazireu quando Jesus se separar do mundo para consagração total a Deus, na véspera de sua paixão, tal como se pode ler em Mateus 26;29 : “Digo-vos: Doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no reino do meu Pai.” Passagem esta constante também dos evangelhos de Marcos 14;25 e Lucas 22;18.
Quando João Batista iniciou o seu ministério para “endireitar as veredas para a vinda do Senhor”, por volta de 27 d.C. ou 29 d.C., Jesus deixou sua mãe amada em boas mãos e dirigiu-se ao deserto da Judéia, entre Jerusalém e o mar Morto, a fim de se preparar para a sua altíssima missão de ser o "Servo de Deus", tal como descrito pelo profeta Isaías. 
Na narrativa dos Evangelhos, Jesus faz a sua “expiação” quanto às tentações a que estaria sujeito na condição humana, e nesse “dialogo consigo mesmo” teve também como interlocutor o seu anjo caído, Satanás. O outrora Arcanjo da Luz e da Sabedoria, Lúcifer, que fez oposição à Deus por causa da criação do homem, rebelando-se contra o próprio Deus ele foi expulso dos céus por seu irmão o Anjo da Face do Senhor, o arcanjo Miguel.  Condenado a viver na Terra e entre os homens, Lúcifer passou a se chamar Satanás, que quer dizer o “adversário”. 
Sim, Satanás estava a espreita dessa hora de poder confrontar o próprio Deus em seu avatar de Jesus, que não era outro senão o arcanjo Miguel, a Face de Deus, dando à Deus sua experiência na condição humana. Eis porque essa passagem é importante e só poderia acontecer “antes” do batismo, quando Jesus ainda estava tomando sua decisão de seguir em frente com o seu “sacrifício expiatória para o bem da humanidade”. Pois, não haveria maior tentação para Jesus que essa: a de continuar sendo apenas humano e não manifestar a sua divindade. Porquanto, estando encarnado, mesmo sendo o próprio Deus, apesar de sua condição divina estava sujeito também ao uso do "livre arbítrio" tal como todo ser humano. E será nessa ferida aberta da tentação do coração de Jesus que Satanás vai colocar seu dedo malévolo (Mt. 4). 
Por isso que Satanás inicia seu ataque dizendo: “Se és Filho de Deus *(arcanjo Miguel), ordena que estas pedras se tornem pães.” Pois a “fome” é um sofrimento doloroso humano, e Jesus sentia fome em seu jejum. A isso Jesus respondeu: “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. (Deut. 8:3) Porquanto, nós sabemos que a palavra de Deus alimenta alma e a salva. 
Satanás, então, foi mais fundo e transportou Jesus ao pináculo mais alto do templo na cidade santa e disse-lhe:”Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos com cuidado para não machucares a teu pé nenhuma pedra (Salmo 90, 11s).” Respondeu Jesus: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Deut. 6:16)”. Se a subsistência é o primeiro drama humano, fonte de sofrimento, o segundo é sem duvida a mortalidade a que está condenado, mas a resposta de Jesus é certeira pois Deus não deve ser desafiado a provar a sua própria existência, essa seria a causa principal de sua crucificação , quando ouviria de seus perseguidores a zombaria; “Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!” (Mt. 27: 42-43). 
Então, Satanás o transportou para o pico mais alto das montanhas e lhe mostrou a glória de todos os reinos do mundo e disse a Jesus: “Dar-te-ei tudo isto, se prostrando-te diante de mim, me adorares.” Respondeu-lhe Jesus: “Para trás Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás.” (Deut. 6:13) Eis a última tentação de Jesus, a mais humana de todas, que é o desejo humano de igualar-se em seu poder a Deus, desejo esse que foi imbuído em Adão pelo próprio Satanás e que levou Adão ao pecado primordial que o fez perder a sua condição de perfeição que lhe foi dada por Deus, o que condenou a si e a toda a criação dependente da necessidade física e condenada a mortalidade. Jesus em sua condição humana deu a resposta que Adão deveria ter dado a Satanás, mas não deu, e por sua deslealdade foi castigado por Deus. E assim, Jesus derrotou brilhantemente Satanás, não como Filho de Deus, mas como o HOMEM JESUS!!!
Eis que assim surgiu o Servo, a luz das nações tal como descreveu Isaías:
“Ilhas, ouví-me, povos de longe, prestai atenção!!! O Senhor chamou-me desde o meu nascimento, ainda no seio da minha mãe, ele pronunciou o meu nome. Tornou a minha boca semelhante a uma espada afiada , cobriu-me com a sombra de sua mão… Disse-me: Tu és meu servo em quem eu me rejubilarei”… E agora o Senhor fala, ele que me formou desde o meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, porque o Senhor me fez essa honra e meu Deus tornou-se minha força. Disse-me: ‘Não basta que seja meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; VOU FAZER DE TI A LUZ DAS NAÇÕES PARA PROPAGAR A MINHA SALVAÇÃO ATÉ OS CONFINS DO MUNDO.” (Is. 49: 1-6)
Após seu jejum perfeito aos olhos do Pai, Jesus rompeu as cadeias injustas, desatou as cordas do jugo, mandou embora as opressões e libertou seu corpo de qualquer apego à matéria e fortaleceu o seu Espírito. Então, Jesus alcançou a sua mais perfeita condição humana como só um homem antes dele um dia o foi semelhante,  a sua criatura Adão. E nessa condição de homem perfeito a sua luz surgiu na aurora, e suas feridas não tardaram a cicatrizar-se, pois a sua justiça caminhava diante dele e a glória do Senhor seguia à sua retaguarda. E a luz dele levantou-se na escuridão e a noite resplandeceu como dia pleno, e o Senhor passou a guiar seus passos constantemente e o alimentou no árido deserto, renovando o seu vigor. (Is. 58)
* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário