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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 11. O LEGADO DE JOSÉ

JESUS, AMOR & FÉ *


11. O LEGADO DE JOSÉ


O jovem Jesus que entrara no Templo de Jerusalem aos 12 anos e surpreendera os doutores da Lei com sua imensa sabedoria, cresceu em obediência a seus pais, honrado a palavra do mandamento dado por Deus a Moises, sem que nenhuma falta lhe fosse imputada. No livro apócrifo “História de José o Carpinteiro”, há a rica narrativa sobre a morte do pai terreno de Jesus, em que Ele demonstra seu profundo afeto por aquele que o criara e educara. A relação de amor que liga reciprocamente pai e filho é objeto de reflexão sobre o papel da morte em toda existência. A dolorosa separação trazida pela morte inexorável de José, levou Jesus a vivenciar a experiência de se sentir “abandonado" por quem tanto se amou.

Conta Jesus que chegada a hora de seu pai deixar esse mundo, o que é destino de todos os mortais, veio um anjo e anunciou-lhe: “Tua morte se dará este ano.” O espirito de José encheu-se de apreensão . Dirigiu-se a Jerusalém, penetrou no templo do Senhor, prostrou-se diante do altar e rezou sua súplica” (XII-1-2) Na sua narrativa diz Jesus que a vida do pai, o ancião bendito, durou cento e onze anos, conforme determinara o Pai, e que faleceu no dia 20 de julho (26 de Epep). Assim descreveu o que acontecia a José: 

“O ouro purificado, isto é,o corpo de José, começou a descolorir-se; e a prata, isto é, a sua inteligência e sua razão, sofreram alterações. Perdeu a vontade de comer e de beber; e sentiu vacilar a habilidade no desempenho do ofício. Aconteceu então que no amanhecer do dia de sua morte, estando deitado foi acometido de grande perturbação. Lançou um forte gemido, bateu as mãos e, extremamente agitado começou a gritar seus lamentos (…) “Mas Jesus Deus é meu advogado e realiza em mim a divina vontade”. Quando ele proferiu essas palavras, eu penetrei no aposento em que meu pai se encontrava. Vendo-o assim agitado na alma e no corpo, disse-lhe:  “Salve, José meu querido pai, ancião bondosos bendito!” Ele ainda angustiado de medo mortal, me respondeu: “- Salve,mil vezes, querido filho! Ao ouvir tua voz, minha alma recobrou a sua tranquilidade. Jesus, meu Senhor, Jesus meu verdadeiro rei, meu salvador bondoso e misericordioso; Jesus meu libertador; Jesus meu guia; Jesus meu protetor; Jesus, em cuja bondade tudo se encontra; Jesus cujo nome é doce e poderoso na boca de todos; Jesus olho que vê e ouvido que ouve, verdadeiramente, escuta-me nesse momento, a mim teu servidor, quando elevo meus rogos verto minhas lágrimas diante de ti. Verdadeiramente , tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme, muitas vezes, me repetiu o anjo, sobretudo naquele dia em que se aninharam em meu coração suspeitas humanas ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mancha e tinha resolvido abandoná-la. Quando estava dominado por este pensamento, apareceu-me em sonho um anjo e disse-me: - José, filho de Davi, não tenhas dúvida em receber Maria como esposa, pois aquele a quem dará a luz é fruto do Espírito Santo. (…) Tu és Jesus, salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes a mim teu servo a obra da tuas mãos. (…) Se quebrares meus grilhões, eu te oferecerei um sacrifício santo, que não será outro senão a confissão de tua glória divina, isto é, que és Jesus, o verdadeiro filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro filho do homem.” (XVII)

Conta Jesus que quando o pai pronunciou essas palavras ele não pode conter as lágrimas e começou a chorar, vendo que a morte ia se apoderando dele a cada momento e principalmente ouvindo as palavras cheias de dor que saiam de sua boca. Falou Jesus aos discípulos: “Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que eu tinha que sofrer pela vida de todos os homens.” (XVIII)

Essa menção, nos permite considerar que toda a narrativa desse texto sobre a vida e morte de José se deu após a ressurreição, para explicar a natureza da morte. O texto continua com Maria pedindo consolo à Jesus em razão da morte que se aproximava de José. Então Jesus a consolou com as seguintes palavras: “Ó minha querida mãe, quem entre os homens poderá livrar-se da necessidade de enfrentar a morte? Ela é a soberana de toda a humanidade, ó mãe bendita. Também tu morrerás, como todos seres vivos. Mas nem a tua morte, nem a de meu pai José pode ser propriamente chamada de morte; é antes vida eterna, sem fim. Também eu passarei por esse transe, por causa da carne mortal de que estou revestido” (XVIII, 4-8).  

Este é um ponto muito importante, pois na vivência carnal como Jesus, Deus virá a experienciar a morte, porquanto sendo Deus imortal, não possui o conhecimento da deterioração da matéria, menos ainda da dor física que esse processo causa. Ao testemunha a morte de seu pai terreno Jesus assim expressou a sua dor:

“Ó morte, de quantas lágrimas e gemidos és a causadora. Mas este poder te foi dado por Aquele que tem sob seu domínio o universo inteiro. Por isso, tal censura não se dirige tanto à morte quanto contra Adão e Eva. A morte nada faz sem ordem do meu Pai. Alguns vivem até novecentos anos; e outros ainda mais tempo. E nenhum deles disse: Éu vi a morte’ ou ‘vinha de tempos em tempos atormentar-me’. Ela traz a dor uma só vez e, ainda assim, é meu Pai que a envia. Quando vem em busca de uma pessoa, sabe que tal decisão provém do céu. Se a sentença vem carregada de cólera, também a morte se mostra colérica ao cumprir sua incumbência, tomando a alma da pessoa e entregando-a a seu Senhor. À morte não foi atribuída o poder de lançar uma pessoa no inferno nem de introduzi-la no reino celestial. A morte cumpre o mandato de Deus. Adão, pelo contrário por não se submeter à vontade divina, cometeu uma transgressão. Provocou a irritação de meu Pai contra si, por ter preferido dar ouvidos a sua mulher, em vez de obedecer ao mandato divino. Deste modo, todo ser vivo ficou implacavelmente condenado à morte .(…) E porque eu mesmo carrego também esta carne concebida na dor, devo suportar com ela a provação da morte para que eu possa apiedar-me das criaturas por mim formadas.” (XXVIII, 1-10, 14).

 Neste ponto, então, se dá essa revelação do quanto Deus lamenta a atitude de Adão e do quanto anseia pela redenção do pecado mortal adâmico para que sua obra de criação possa retornar ao estado primordial de perfeição por ele criado, o qual só poderá ser alcançado através do livre arbítrio humano de abraçar o bem e renegar o mal.

Ao final da narrativa de Jesus sobre a morte de seu pai terreno, os discípulos expressaram admiração por Jesus, sendo seu filho vindo do Céu, não ter concedido à José a imortalidade para viver eternamente. Jesus então respondeu à eles: 

“A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não perderá a sua força , pois Adão não foi obediente a suas ordens. A transgressão de Adão foi a causa destes grandes males que atingiram a humanidade juntamente como mal irremediável da morte. Quando o meu Pai destina alguém a ser justo, este se torna imediatamente seu escolhido, embora tenha que passar pela morte. Se uma pessoa ofende a Deus por amar as obras do demônio, porventura ignora que virá um dia a cair em suas mãos, caso continue impenitente, ainda que lhe sejam concedidos largos anos de vida? Se, pelo contrário, alguém vive muito tempo praticando sempre boas obras, são justamente estas boas obras que lhe concedem longevidade. Quando Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe curto espaço de vida e o faz desaparecer na metade de seus dias. Além disso, devem cumprir-se com exatidão as profecias emanadas do meu Pai sobre a humanidade e tudo deve acontecer de conformidade com elas. (…) Eu vos digo que ‘Ainda que tivesse alguém vivido dez mil anos, estaria sempre sujeito à mesma necessidade de morrer’. Eu vos asseguro que todos os santos, ou melhor, todas as pessoas que nascem no mundo sejam justos ou perversos, devem necessariamente passar pela morte. Esta é a hora que todo ser vivo precisa da misericórdia divina”. (XXVIII à XXXI)

É a ‘morte’ a razão da vinda de Deus na forma humana de Jesus, como anteriormente mencionei, Jesus seria uma espécie de ‘avatar’ de Deus, termo tirado da tradição hindu que é atribuído a uma manifestação corporal de um ser imortal, por vezes até o Ser Supremo. Deus nessa condição revestido de carne humana deseja tanto experienciar a condição mortal como trazer o consolo sobre o seu real significado no processo de transição espiritual. 

Não foi por acaso que a primeira lição que há quase vinte anos eu recebi de Jesus foi sobre a morte e a sua função no processo de renovação da vida. Disse-me Jesus sobre a morte uma única frase: “A morte fidalga é senhora de todas as coisas”. A frase me calou, pois é observável que nesse mundo em que vivemos tudo morre, não importe quanto tempo leve de vida, um dia morrerá, e deixará de existir. A História documenta amplamente a ação da morte sobre todas as coisas e muito impressiona ao olhar observador que do mais insignificante e diminuto ser vivo ao mais glorioso e poderoso império tudo que existe está sujeito à morte, assim como tudo estará sujeito também ao renascimento, pois é na renovação constante da matéria que a vida, a energia manifesta de Deus, se perpetua e, inexplicavelmente, em sua essência divina se mantém sempre a mesma e se perpetua, pois a vida é o reino de Deus. 

O reino mundano da obra humana tenta inutilmente reproduzir sua percepção do que reino de Deus. Contudo, tudo que é concebido e forjado pela mente humana sem a benção de Deus estará inevitavelmente destinado à destruição, pois só permanece nesse mundo aquilo que Deus permite, pois aquilo que não vem do Pai não permanece. 

A história da vida de Jesus e seu domínio sobre a civilização humana é a prova da poderosa força divina de Deus, portanto renovemos nossa Fé e confiança em Deus, pois a Sua misericórdia jamais faltará àqueles que O amam.

Jesus tinha 18 anos por ocasião da transcendência de José, e esse fato marca a sua passagem para a fase adulta da sua vida, pois com a morte de seu pai Jesus passou a situação de “provedor” em relação a sua mãe, e da mesma forma que José exercendo a profissão de carpinteiro sustentou a sua família com o trabalho de suas mãos, jamais podendo se dizer que comeu seu pão sem trabalhar em conformidade ao que prescreve a lei de Moisés, do mesmo modo Jesus se submeteria à lei apesar de ser quem Ele era, honrando sua mãe em obediência ao mandamento por Ele mesmo proclamado. E, esse foi o legado de José, o pai terreno, à Jesus, seu filho celestial: cumprindo a sina de seu nome, José, que significa "aquele que acrescenta”, ensinou a Jesus tudo o que sabia de como era ser uma pessoa e um bom judeu, e, que mesmo sendo Ele, Jesus, um ser divino, estando na terra era um ser mortal submetido às leis terrenas. E, foi desse modo, que sendo José pai de Jesus na terra e se fez filho de Jesus no céu, pois pelo poder do Espírito Santo de Deus o Pai está no Filho como o Filho está no Pai.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

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