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domingo, 15 de novembro de 2015

JESUS, AMOR E FÉ - 18. A REVELAÇÃO DAS BODAS DE CANÁ

JESUS, AMOR & FÉ *


18. A REVELAÇÃO DAS BODAS DE CANÁ


Em certo dia celebrava-se em Caná o casamento de aparentados da família de Jesus, e sua mãe Maria estava lá hospedada. Caná era pertinho de Nazaré e lá se chegava numa rápida caminhada. Jesus era convidado para as bodas e o convite foi estendido também aos seus novos amigos, que passaram a acompanhá-lo naqueles dias onde quer que ele fosse. Jesus gostava por demais de uma festa, pois tinha um temperamento muito alegre, e ele não negava essa sua peculiaridade, chegando a rir quando o chamavam de beberrão e comilão (Mt. 11:19). Ele não gostava de quem não sabia se divertir na ocasião oportuna, de gente que tendo música para dançar e não dança e em vez de cantar verte lamentações, pois ao seu ver a falta de alegria era tão vulgar quanto lamentações excessivas, pois ambos casos demonstram um coração frio e uma mente calculista. 

A festa estava animada, quando sua mãe se aproximou dele para o avisar que o vinho acabara. Jesus despreocupado disse a ela que nem ele nem ela tinham nada a ver com a falta de vinho, pois não eram os anfitriões da festa, nem os donos da casa. Mas, Maria fez aquela cara de mãe desapontada que sabe que o filho tem como resolver aquele constrangimento para amigos tão queridos. Afinal, se não tivesse mais vinho a festa logo se acabaria e, pior, os convivas sairiam falando mal da festa, dizendo que os anfitriões não receberam com a largueza devida para as bodas. Jesus sabia disso, e olhou nos olhos de sua mãe querida e alertou-a dizendo: “Minha hora ainda não chegou.” Mas, Maria que compartilhava o segredo divino do filho, olhou-o mais profundamente nos olhos e meneou a cabeça como a dizer: “Acho que já chegou, sim, meu filho amado.” A este segundo olhar Jesus não discutiu mais, e como filho obediente que era seguiu atrás da mãe até onde estavam os serventes. Ela disse aos empregados: “Fazei como ele vos disser.” 

Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra que tinham sido usadas para as purificações. Isso porque os judeus apegados à tradição não comiam sem fazer abluções das mãos, de forma que as talhas estavam com água da lavagem das mãos, algumas estavam cheias pela metade e outras com um terço dessa água impura. Jesus ordenou aos serviçais para que enchessem as talhas até a boca do vasilhame com água limpa. Depois disso Jesus ordenou a um dos serventes que enchesse uma taça com o líquido de uma das talhas e a levasse ao chefe dos serventes para experimentá-la. Quando o chefe dos serventes provou a água que se tornara vinho sem saber de onde ele viera, disse: “É costume servir primeiro o vinho bom , e depois, quando os convidados já estão quase embriagados servir o menos bom. Mas, tu guardaste o vinho melhor até agora.”

Esse foi o primeiro milagre de Jesus, contudo, apesar de ser aparentemente tão singelo é permeado de um simbolismo oculto, de verdades veladas e de uma fina ironia. Lembram-se quando o Senhor disse a Isaías: “É o Senhor que vós deveis ter por conspirador; é a Ele que é preciso respeitar, a Ele se deve temer” (Is.7:13) ? Pois bem, aqui podemos ver quão sutil é a inteligência divina a ponto de confundir até o mais sábio entre os sábios.

O costume de lavar as mãos e os pés teve seu início segundo o livro do Gênesis quando o Senhor disse a Moisés que os sacerdotes e os levitas deveriam “lavar os pés e as mãos para não morrerem e Isto será para eles uma lei perpétua de geração em geração” (Êxodo 30:17-21)

Segundo o Evangelho de São Marcos fica-se sabendo que esse era um costume antigo da tradição judaíca e que os fariseus tomavam essa prática como um principio indiscutível, tanto que haveria de ser causa de discussão acalorada com Jesus. Escreveu Marcos: “Os fariseu e alguns dos escribas vindos de Jerusalém (* pois o caso se deu em Genesaré), tinham se reunido em torno dele. E perceberam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é sem as lavar. (Com efeito, os fariseus e todos os judeus, apegados à tradição dos antigos não comiam sem lavar cuidadosamente as mãos; e quando voltam do mercado não comem sem ter feito abluções; e há muitos outros costumes que observam por tradição, como lavar os copos, os jarros e os pratos de metal). Os fariseus e os escribas perguntaram-lhe: “Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras?”Jesus disse-lhes : “Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (Is. 29:13). Deixando o mandamento de de Deus , vos apegais a tradição dos homens. E Jesus acrescentou: Na realidade invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição." (Mar. 7:1-9) “Nada há fora do homem que entrando nele, o possa manchar , mas o que sai do homem, isso é o que o mancha o homem. A bom entendedor meia palavra basta!” (Mar. 7:15)

Mas, o texto que Jesus cita de Isaías ainda é mais esclarecedor se lido em seu contexto completo:
"Pasmai-vos e maravilhai-vos, obstinai-vos, feridos de cegueira. Embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não por causa da bebida. Porque o Senhor espalhou sobre vós o espírito de torpor, fechou vossos olhos e cobriu vossas cabeças. A revelação de todos estes acontecimentos permanecem para vós como o texto de um livro selado. Quando o oferecem a um letrado, pedindo-lhe que o leia, ele responde: “Não posso, o livro está selado”; se o oferecem a um iletrado, pedindo-lhe que o leia, ele responde: “Não sei ler”. O Senhor disse: 'Este povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto o seu coração está longe de mim e o temor que ele me testemunha é convencional e rotineiro, por isso continuarei a tratar esse este povo de modo tão estranho que sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá' Aí daqueles que querem esconder do Senhor seus desígnios que fazem intrigas nas trevas…” (Is. 29:9-15)

Durante toda a pregação de Jesus veremos as parábolas sobre a vinha, e como essas parábolas vão revelando quem Jesus é e a disposição de Deus em relação aos judeu. Isso também foi escrito pelo profeta Isaías, e conhecendo-se as palavras dos versos do profeta pode-se compreender a amplitude do significado do milagre que transformou a água “impura”, que estava em vasos de pedra e não de cerâmica como seria o usual, para o vinho, acrescentando apenas água “pura”, no melhor vinho que já tinha sido servido durante as bodas. Escrevera Isaías sobre a vinha:

“Eu quero cantar o canto do meu bem-amado sobre a sua vinha. Meu amigo possuía uma vinha num outeiro fértil. Ele a cavou e tirou dela as pedras; plantou-a de cepas escolhidas. Edificou-lhe uma torre no meio e construiu aí um lagar. E contava com uma colheita de uvas., mas ela só produziu argaço. (…) A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel e os homens de Judá, são a planta de sua predileção. Esperei deles a prática da justiça, e eis o sangue derramado, esperei a retidão, e eis os gritos de socorro.” (Is. 5;1,2, 7)

“Naquele dia se dirá: Cantai a bela vinha! Eu o Senhor sou o vinhateiro, no momento oportuno eu a rego, a fim de que seus sarmentos não murchem. Dia e noite eu a vigio, nada tenho contra ela. Se nela crescerem sarças e espinhos, eu lhes farei guerra e os queimarei a todos a menos que se coloquem sob a minha proteção , que façam paz comigo, que façam comigo a paz! Um dia Jacó lançará raízes, Israel produzirá flores e botões e eles cobrirão o mundo de frutos.” (27: 2-3)

Há uma decepção de Deus com o resultado da sua vinha, mas há também uma esperança muito grande de salvá-la e torná-la algo muito melhor. Na passagem do milagre em que Jesus transforma água em vinho, a água impura e suja representa os pecados dos judeus, assim, quando Jesus coloca as águas puras nas talhas com águas impuras, é como se juntasse água milagrosa que transformou os pecados dos judeus em vinho, ou seja transforma o mal num bem. Pois esse é o poder do bem divino: transformar o mal num bem maior. Pois como Jesus disse: “ Sois também vós ignorantes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não pode o tornar impuro, porque não lhe entra no coração, mas vai ao ventre, e dali segue sua lei natural?” - Assim ele declarava puros todos alimentos. E acrescentava: “Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos, devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraude, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem."(Mar. 7:17-23)

E, foi assim, que Jesus fez o seu primeiro milagre repleto de sabedoria, e demonstrando o quanto o pensamento humano está longe da inteligência divina. “Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não são os meus, diz o Senhor., mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.” (Is. 55:8-9)

Portanto, quando ocorreu outra disputa por causa que os discípulos de João e os fariseus jejuavam e os dele não Jesus disse: “Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo? Enquanto tem consigo o esposo, não lhes é possível jejuar. Dias virão porém, em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão. (…) E ninguém põe vinho novo em odres velhos: se o fizer, o vinho os arrebentará, e perder-se-á juntamente com os os odres; mas para vinho novo, odres novos.” (Mar. 2: 19,20 e 22) Em caso de falta de odres novos, que sejam talhas de pedra,  pois assim não thá perigo que se rompam, não é Jesus?

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

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