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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 21. A NATUREZA DO "ESPÍRITO" EM RELAÇÃO À ALMA

JESUS, AMOR & FÉ *


21. A NATUREZA DO “ESPÍRITO” EM RELAÇÃO À ALMA

Para compreendermos melhor os debates que Jesus provocará ao difundir a PALAVRA DE DEUS, primeiro será preciso inteirar-se de alguns conceitos da tradição legada por Moisés aos judeus. 
A primeira vez que a palavra “ESPÍRITO” foi mencionada no Gênesis é quando Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão, recebeu a notícia que o seu filho José, que pensava estar morto em verdade estava vivo. Ele ignorava que José em sua ausência tinha sido vendido como escravo por seus irmãos. No Egito, José em vez de encontrar a desgraça veio a prosperar, e tornou-se administrador dos bens do Faraó. A princípio Jacó não acreditou no que lhe contavam, mas ao ver os tesouros enviados por José para ele, está escrito que ao crer seu “espírito se reanimou” (Gên, 45:27). 
Acredita-se com base na tradição que a Lei (Torá), mais tarde foi chamada pelos romanos de Pentateuco, foi escrito por Moisés, contendo os cinco livros : Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Ora, Moisés foi educado como se fosse neto do Faraó do Egito, de modo que recebeu a educação formal e religiosa da época dos sacerdotes egípcios. Os egípcios tinham uma religião politeísta, baseada principalmente na transmigração das almas, na imortalidade da alma e na reencarnação, essa crença exerceria influência foi notável em todas formas religiosas da antiguidade e não deixaria de deixar seus vestígios nos ensinamentos de Moisés também.
Ora, Moisés tirou os judeus do Egito, os quais tinham ido para lá quando José governava em nome do Faraó. José trouxera seu pai e seus irmãos da Terra Prometida no tempo da grande fome. Lá o povo judeu inicialmente não foi escravo, mas com o passar do tempo caindo em desfavor muitos deles acabaram como escravos. Moisés reuniu o povo judeu e o tirou do Egito, vagando durante 40 anos no deserto da Península do Sinai para que o povo judeu fosse “purificado” dos costumes egípcios e ocorresse a renovação da geração, como se fosse um renascimento espiritual, onde todo o passado foi esquecido. Foi com base nessa idéia que a Lei (Torá/ Pentateuco) foi escrita por Moisés.
 A primeira menção a palavra “ALMA” foi no sentido de “VIDA”, em Levítico 17:11-14 se lê: “Porque a alma da carne está no sangue; e dei-vos esse carne para o altar; a fim de que ele sirva de expiação por vossas almas, porque é pela alma que o sangue expia. (…) derramará o sangue sobre a terra. porque a alma de toda carne é o seu sangue, que é a sua alma. Porque não comereis sangue de animal, porque a alma de toda carne é o seu sangue, quem o comer será eliminado.” É dessa prescrição de Moisés que muitos costumes e tradições terão seu lugar e respeito religioso entre os judeus, alguns se mantendo até os nossos dias. 
Entende-se portando que é a alma que dá a vida ao ser vivo e que a alma habita no sangue, que anima o corpo e lhe dá vida. É evidente que Moisés evitou entrar mais profundamente não só na questão da alma, mas principalmente no que dizia respeito ao “ESPÍRITO” , o qual seria responsável pelo “vigor inteligente da alma”, como apresentado na passagem de Jacó, mas segundo Moisés seria o vento ou sopro vital , o sinal de vida, o influxo divino que dá a vida. Mas, Moisés não se aprofunda na questão para que a cultura religiosa egípcia seja esquecida e os novos judeus se apegassem aos novos costumes e ritos religiosos por ele dados aos judeus em nome de Deus. Contudo, esse conhecimento existia em Moisés, tanto que em Levítico 20:27 está disposta a seguinte proibição: “Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Será apedrejado e levarão a sua culpa“.
Tempos depois quando escreveu o livro Deutoronômio, Moisés foi ainda mais rigoroso com essa proibição, como se pode ler no capítulo 18, versículos 11 a 13: “Não se ache no meio de ti quem passe pelo fogo… nem que se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo ou à evocação dos mortos, porque o Senhor teu Deus abomina aqueles que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor , teu Deus, expulsa diante de ti essas nações. SERÁS INTEIRAMENTE DO SENHOR, TEU DEUS. As nações que vais despojar, ouvem os agoureiros e os adivinhos; a ti porém o Senhor teu Deus, não o permite. “O Senhor teu Deus te suscitará desnutre os teus irmãos um profeta como eu, é a ele que deveis ouvir.”
Ora, quando por ocasião do respeitado profeta Elias, que de tão santo foi arrebatado para o céu num turbilhão por uma carruagem de fogo (II Reis 2:1), numa passagem estando um menino doente, Elias estendeu-se sobre ele e orou por três vezes : Senhor rogo-vos que a alma desse menino volte à ele”. E o Senhor ouviu a oração de Elias, a alma do menino voltou à ele e ele recuperou a vida. (I Reis 17:17-24). O que depreende-se que a alma determina a condição de vida ou morte de um corpo vivo, e que a alma se afasta do corpo antes que ele morra. Em razão da proibição de Moisés sobre essa questão da natureza do “ESPÍRITO” e sua relação com a “ALMA”, muito do conhecimento relativo às questões espirituais eram mantidas em segredo. Contudo, com o cativeiro da Babilônia, depois com tomada do antigo reino de Israel por Alexandre, O Grande, com a implantação da cultura helênica e depois ainda com o domínio romano, o debate sobre a natureza da alma e do espírito foi retomado com grande vigor entre os eruditas daquele tempo de Jesus. Sobre isso escreveu Flávio Josefo: 
"Entre os judeus, os que faziam profissão particular de sabedoria, estavam há vários séculos divididos em três seitas: os essênios, os saduceus e os fariseus (…) A maneira de viver dos fariseus não era nem mole nem cheia de delícias: era simples. Eles se apegam obstinadamente ao que se persuadem dever abraçar. Honram de tal modo os velhos que nem ousam contradizê-los. Atribuem ao destino tudo o que acontece, sem, todavia tirar ao homem o poder de nele consentir; de sorte que, tudo sendo feito por ordem de Deus, depende, no entretanto da nossa boa vontade,entregarmo-nos à virtude ou ao vício. Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas; que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta. Eles granjearam por essa crença, tão grande autoridade entre o povo, que segue os seus sentimentos em tudo que se refere ao culto de Deus e às orações solenes que lhe são feitas. Assim, cidades inteiras dão testemunhos valiosos de sua virtude, de sua maneira de viver e de seus discursos.
A opinião dos saduceus é que as almas morrem com os corpos; que a única coisa que nós somos obrigados a fazer é observar a lei e é um ato de virtude não querer ceder em sabedoria aos no-la ensinam, Os desta seita são em pequeno número, mas é composta de pessoas de mais altas condição. Nada se faz, quase que sempre segundo o seu parecer, porque quando eles são elevados aos cargos contra a sua vontade e às honras, eles são obrigados a se conformar com o proceder dos fariseus, pois que o povo não permitiria que se opusessem aos mesmos.
Os essênios, a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que deve fazer todo o possível para praticas a justiça …” (Livro XVIII, Cap. II, 706).
Curiosamente as dúvidas daquele tempo se sustentam até os dias de hoje, apesar de todo conhecimento cientifico do ser humano contemporâneo ao que parece continuamos sabendo sobre este assunto tão pouco quanto os nossos ancestrais ao tempo de Jesus.
* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

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