Translate

domingo, 1 de novembro de 2015

JESUS, AMOR & FÉ - 14. JOÃO, O BATISTA - A VOZ QUE CLAMOU NO DESERTO

JESUS, AMOR & FÉ *


14. JOÃO, O BATISTA - A VOZ QUE CLAMOU NO DESERTO

Então, após séculos e séculos (740 a.C), chegou o tempo em que as palavras proféticas de Isaías (escritas por volta de 740 a.C - sec. VIII)  ganhassem a realidade. Para tanto o anjo mencionado pelo profeta Daniel (sec. V a.C.) em suas profecias (9;21), que anunciou a vinda do Santo dos Santos, o Ungido de Deus (9:20-27) torna-se o protagonista de uma das histórias mais formidáveis já contadas, e o nome desse ser angelical era Gabriel, que em hebráico “gébher” quer dizer homem com força ou forte e “El” quer dizer Deus, ou seja, o nome de Gabriel pode significar tanto “O homem forte de Deus” ou “Fortaleza de Deus”. Em relação ao significado do nome, Gabriel é o anjo que aparece na forma humana para trazer uma mensagem reveladora de Deus a algum dos seus escolhidos entre os seres humanos para cumprir uma determinada missão predestinada por Deus, a acontecer para dar um rumo ao destino da Humanidade, portanto a função do Anjo Gabriel, que não é um arcanjo, é ser o mensageiro de Deus. Será assim que ela aparecerá a Maria mãe de Jesus, anunciando que ela conceberia o Messias pelo poder do Espírito Santo de Deus e também foi ele que anunciou o nascimento de um filho para o sacerdote do templo Zacarias, casado com Isabel prima-irmã de Maria. 

Quando chegou o tempo de sua prima Isabel dar à luz, Maria retornou ao convívio com seu prometido marido José, na cidade de Nazaré, pois não poderia se contaminar com a impureza do trabalho de parto, porquanto já estava grávida de Jesus pelo poder do Espírito Santo do Senhor Deus. 

Quando em conformidade com o que o anjo Gabriel havia dito à Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, sua velha esposa Isabel lhe deu um filho primogênito varão, ambos deram o nome ao menino de João, que quer dizer “Deus é propício”, tal como fora ordenado pelo anjo. Seis meses após o nascimento de João, também Maria deu à luz Jesus, nas proximidades de Belém. Algum tempo depois o rei da Judéia, Herodes, o Grande, promulgou a ordem de matar os recém nascidos de até dois anos na região de Belém. José pegou Maria e o recém-nascido Jesus, e acompanhado de seu filho menor Tiago e de sua irmã Maria Salomé , que os acompanhou para ajudar Maria, pois os outros filhos e filhas do primeiro casamento de José já estavam casados, e levou-os para ficarem seguros no Egito.

Segundo o Proto-Evangelho de Tiago, Zacarias em razão da perseguição de Herodes foi morto no Templo ao pé do altar quando foi interrogado pelos soldados romanos sobre o paradeiro do filho que lhe tinha nascido, o qual ele tinha escondido numa caverna nas montanhas com sua mãe, Isabel (Cap. XXIII). De modo que pode se supor Isabel deve ter vivido nas montanhas até a morte de Herodes, o Grande, quando foi possível à ela retornar à sua própria casa, considerando que essa mudança deve ter se dado ao mesmo tempo que Maria e José retornaram após um ano do Egito para a Galiléia, tal como narrado na História de José o Carpinteiro (Cap. VIII). Considerando que  a simplicidade é o curso natural do destino, assim  também podemos considerar que tal como Maria retornou com Jesus para a Galiléia, Isabel também retornou com João, pois foi desde o ventre que os destinos dessas duas crianças se entrelaçaram em razão dos anúncios do anjo Gabriel. 

Certamente, João seguiu os passos educacionais condizentes com a sua alta posição social, sendo ele, João, filho de um sacerdote do Templo, e descendente de Aarão, irmão de Moisés, primeiro dos sacerdotes levitas do Senhor (Êxo. 29). Impensável, que Isabel tirasse o direito de nascença de seu filho, primogênito e herdeiro de seu pai Zacarias, que tanto o queria para para que seu trabalho sacerdotal tivesse continuidade e  em razão disso Zacarias o consagrou ao Senhor desde a sua concepção. Pois esse é o destino de obediência à Deus dos Levitas, segundo à Lei Mosáica, sobre a qual a religião judáica se ergueu e se sustentou. Do mesmo modo como Maria foi educada pelos sacerdotes do Templo de Jerusalem, o mesmo se deu com João. Em vista da alta posição ocupada peia família de Zacarias entre o povo judeu, propagar a idéia que João era um “bronco” sem educação que vivia no deserto, por conta de sua falta de dinheiro, é uma ignorância dos costumes dos judeus, além do mais caso Zacarias não tenha sido assassinado conforme acredita a tradição católica, mais ainda se pode ter a certeza de que João tenha sido iniciado em todos os conhecimentos sacerdotais dos levitas. 

Todavia, considerando a suposição católica como correta, o pai de João, Zacarias, teria morrido no ano 12 d.C. João teria entre 18 e19 anos de idade. E, como levita deve ter sido um esforço manter o seu voto de não tocar nos mortos, para não se tornar impuro. Com a morte do seu pai, Isabel ficou dependente de João para o seu sustento. Ora, era normal ser o filho mais velho a sustentar a família com a morte do pai. João era o filho único de Isabel. O mesmo aconteceu com Jesus. Naturalmente, João teve que se licenciar de suas atividade no Templo pois teria que cuidar de sua mãe que ficara desamparada, e para poder manter a ambos com o suor do seu trabalho conforme a lei, possivelmente ele resolveu comprar um gado miúdo e se tornar pastor, mudando-se com ela para Hebrom, próximo ao deserto da Judéia, o mesmo deserto onde Jesus faria o seu jejum e seria tentado por Satanás. E isso certamente não é uma coincidência, mas um feliz predestinação tanto de João como de Jesus. Ali João teria iniciado uma vida de pastor e travado contato com os essênios, judeus ascetas, que tinham um modo de vida estóico e simples. Foi apenas a morte de sua mãe Isabel por volta de 28 d.C, que João possivelmente estabeleceu uma convivência mais estreita com a comunidade essênia, porquanto não admitia-se mulheres em seu meio, e se preparar para o seu ministério que começou no ano 15o. do imperador romano Tibério, ou seja, em 29 d.C., pois Augusto César falecera em 14 d.C. aos 88 anos. Foi assim que Flavio Josefo descreveu os essênios:

“Os essênios, a terceira seita (* entre os judeus, as outras duas eram os fariseus - apegados à Lei Mosáica, própria dos sacerdotes e aos rituais - e os saduceus - com forte influência da cultura helênica e desapegada às tradições, comum entre os ricos e governantes), atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em enviar suas ofertas ao templo, sem lá ir fazer os sacrifícios, porque eles o fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Seus costumes são irrepreensíveis e sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera de muito a de todos os gregos eis de outras nações, porque eles fazem disso todo o seu empenho. e preocupação, e a ela se aplicam continuamente. Possuem todos os bens em comum, sem que os ricos tenham maior parte do que os pobres; seu número é de mais de quanto mil. Não tem nem mulheres, nem criados, porque estão persuadidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida; quanto aos criados, é ofender à natureza, que fez todos os homens iguais, querer sujeitá-los; assim eles se servem uns aos outros e escolhem homens de bem da ordem dos sacrificadores (*só levitas descendentes de Aarão eram sacrificadores, podiam lidar com os sacrifícios, João era um sacrificador), que recebem tudo o que eles recolhem do seu trabalho e tem o cuidado de dar alimento a todos. Esta maneira de viver é quase a mesma da dos que chamamos plistes e vivem entre os dácios.” (Livro XVIII - Cap. II -760. )

Com a explicação clara de Flavio Josefo cujo testemunho histórico é aceito sem discussão por todos historiadores contemporâneos, conseguimos nos dar conta que o papel de João é exatamente como sacerdote sacrificador levita preparar o “sacrifício” de Jesus como o cordeiro sem mácula oferecido como holocausto à Deus na Páscoa, tal como foi disposto pelo Senhor para os levitas: “Quando um de vós (*levitas) fizer uma oferta ao Senhor, será dentre o gado maior ou menos que oferecereis. Se a oferta for um holocausto tirado do gado maior, oferecerá um macho sem defeito; e o oferecerá à entrada da Tenda de Reunião para obter o favor do Senhor. PORÁ A MÃO SOBRE A CABEÇA DA VÍTIMA, QUE SERÁ ACEITA EM SEU FAVOR PARA LHE SERVIR DE EXPIAÇÃO”. (Lev. 1:2-4) Em razão disso que João ao ver Jesus se encaminhando na direção dele para ser batizado Jesus disse : “Eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.” (Jo 2:29)

Sobre João, Isaías profetizou com lindos versos:
“Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus. Animai Jerusalém, dizei-lhe bem alto que suas lidas estão terminadas, que sua falta foi expiada, que recebeu, da mão do Senhor, pena dupla por todos os seus pecados. Uma voz exclama: “Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma estrada real para o nosso Deus.” (Is. 40:1-3)
“Como são belos sobre as montanhas os pés do ‘mensageiro’ que a anuncia a felicidade, que trás as boas novas e anuncia a libertação, que diz a Sião ( * monte sobre o qual se assenta Jerusalém): Teu Deus reina !!!!” (Is. 52:7)
“ (Será dito:) Abri, abri a estrada, aplainais! Retirai do caminho do meu povo todo obstáculo” (Is. 57: 14) Pois, o pecado é o obstáculo à felicidade, e para retirar o pecado do povo de Deus que João, passa a promover o batizado nas águas do Jordão. 

Ora, naquele tempo o povo judeu em razão do regime de vassalagem à Roma desde conquista de Jerusalém, em 63 a.C., pelo general romano Pompeu tinha que pagar altos tributos, vivendo em grande penúria e necessidade. Devido aos impostos pagos aos romanos para conservarem a vida e não se tornarem escravos, nem todo homem judeu tinha o dinheiro para pagar às ofertas necessárias para a purificação dos filhos recém-nascidos e nem mesmo pelo tributo do recenseamento que integrava todo jovem de 20 anos nascido de mãe judia ao povo judáico, para se tornar um verdadeiro “filho de Deus”. De modo que só aqueles que tinham posses e que tinham condições de cumprir com os altos custos de ser um “verdadeiro israelita” dentro dos costumes estabelecidos pela Lei dada pelo Senhor à Moisés. De modo que o número de excluídos do povo de Deus era crescente, não só essas pessoas por falta de dinheiro eram excluídas da sociedade judáica quanto também de uma posição social e política, pois eram consideradas “impuras” e desprezadas, impedidas de uma convivência religiosa, se tornando assim um espécie de pária social. 

Em vista dessa situação de injustiça e de inteira falta de misericórdia, João, como sacerdote levita trás o recurso do “batismo” pela água como um ritual expiatório, mas sobretudo “purificador”, limpando o corpo do crente de todas “impurezas”, dos pecados, dando-lhe uma nova condição de "pureza" e o reintegrando a sociedade, de forma a dar-lhe um sentido de “pertencimento” a um grupo social, que não só o acolhe como lhe de o necessário “propósito” para viver e existir, para amar e servir à Deus.

Portanto, João, ao começar a batizar os indivíduos excluídos da sociedade religiosa judáica. ele criou uma questão política, bem documentada por São João, Evangelista, logo no início do seu Evangelho:
“Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: ‘Quem és tu?’ Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: ‘Eu não sou o Messias (* Salvador).’ ‘Pois então, quem és, perguntaram-lhe eles. És tu Elias ( * No Livro de Malaquias, o retorno do profeta Elias, século IX a.C., foi profetizado "antes que venha o grande e temível dia do Senhor", o que fez dele um arauto do Messias)?’ Disse ele: ’Não o sou.’ “És tu o Profeta?’ Ele respondeu: ’Não.’Perguntaram-lhe de novo: ‘Dize-nos, afinal quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?’ Ele respondeu: ‘EU SOU A VOZ QUE CLAMA NO DESERTO: ENDIREITAI O CAMINHO DO SENHOR, como disse o profeta Isaías.’ Alguns dos emissários eram fariseus. Continuaram a perguntar-lhe: “Como, pois, batizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?’ João respondeu: ‘Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado.’ Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.” (Jo. 2:1-28)

João chamou a atenção dos sacerdotes do Templo por seu discurso humanitário? De modo algum!!!! Chamou a atenção porque os sacerdotes estavam perdendo fiéis, perdendo dinheiro, do momento que o batismo de João livrava gratuitamente o crente do pecado sem que fosse necessário um “sacrifício” expiatório, sem ter que pagar nada para isso. Afinal, quase tudo nessa vida versa sobre dinheiro e poder, e nada mais!

Sobre João escreveu Flavio Josefo: “… João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade que exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o Batismo, depois de terem tornado agradáveis a Deus, não se contentando em não cometer pecados, mas unindo-o a pureza do corpo à da alma. “ (Livro XVIII - Capítulo VII - 781)
O papel de João, o Batista, não se define por sua morte ignóbil para satisfazer os prazeres de luxúria de uma jovem insensata que quis sua cabeça numa bandeja de prata para dançar sensualmente para um rei judeu saduceu sem nenhuma moral, cuja lascívia fazia jus a Satanás. Não, João, o Batista, se define por sua vida, por seu imenso papel na vida de Jesus, um papel que foi definido pelo próprio Jesus segundo São Lucas da seguinte maneira: 

“Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Mas, que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas preciosas e vivem no luxo, estão nos palácios dos reis. Mas, enfim, que fostes ver? Um profeta? Sim, digo-vos, é mais do que um profeta. Este é aquele de quem está escrito: EIS QUE ENVIO O MEU MENSAGEIRO ANTE A TUA FACE; ELE PREPARARÁ O TEU CAMINHO DIANTE DE TI” (Mal. 3:1) Pois, digo-vos, entre os nascidos de mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no reino de Deus é maior do que ele.” (Lc. 7:24-28) 

Mateus em seu Evangelho é mais específico ao escrever as seguintes palavras de Jesus: "Desde a época de João Batista até o presente, o reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam. Porque os Profetas e a Lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar (Mal. 4:5)." Ouvindo o que Jesus dissera a respeito de João Batista muitos acreditaram que João Batista era Elias acorreram para serem batizados por João, contudo os doutores da lei e os fariseus se negaram a receber o batismo e com isso frustraram o designo de Deus, e conspiraram para a prisão e morte de João, o que veio a ocorrer pelas mãos do Tetrarca da Galiléia e da Peréia, Herodes Antipas (* 20 a.C - 39 d.C., rei de 1 a.C - 39 d.C e morreu pobre no exílio), que levou João à morte ainda no verão daquele ano de 29 a.C. Contudo o seu legado permanece até o dia de hoje, perpetuado no ritual de Batismo que introduz todo cristão na comunidade dos seguidores dos ensinamentos de Jesus, seguindo seus passos em direção ao Reino de Deus, assim realizando em cada um o desígnio da felicidade eterna dada por Deus a todos que nele confiam, o servem e o amam.

* Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário